Paulo César de Oliveira

Ninguém sabe de nada

Incertezas sobre a pandemia e a reconstrução do país


Publicado em 15 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Vamos vivendo dias de expectativa com a evolução da Covid-19 pelo mundo e, em especial, no Brasil. Os números indicam que caminhamos para o controle da pandemia, mas ainda é prematuro dizer que isso acontecerá. Afinal, em vários países muito mais disciplinados do que o nosso e com ações mais efetivas de governo, há indicativos de retomada das contaminações e casos de reinfecções – em número pouco significante, é verdade – o que nos indica que devemos permanecer em vigilância, sem baixar a guarda, por mais que alguns menos responsáveis digam o contrário.

Aprendi a ser cauteloso em relação a previsões envolvendo a Covid-19 com um médico amigo meu que me disse, logo no início da pandemia, que nada se sabia sobre o vírus e que a ciência não tinha ideia sobre o que aconteceria. É verdade que evoluímos no conhecimento sobre o vírus, mas ainda não o suficiente para afirmações seguras sobre o seu controle.

No início da pandemia o próprio governo dizia que tudo passaria rápido, e o presidente Bolsonaro, confiante nas previsões de seu então ministro Osmar Terra, chegou a afirmar que não passaríamos de mil mortes. Elas já são mais de 130 mil, com milhões de infectados, e ninguém pode prever aonde chegaremos. O pior é que iniciamos uma batalha política em torno da vacina, apontada como a única possibilidade de recolocar o mundo em seu trilho.

Só com a vacinação em massa seremos capazes, dizem os cientistas, de voltar ao normal. Mas aí surge uma questão ainda sem resposta: mas qual normal? O que vai acontecer com o mundo pós-epidemia? Qual será o comportamento do homem? Mudam as relações sociais? Com quais reflexos na economia, na geração de renda, de emprego? Não temos a menor ideia do que virá – no duro mesmo, se virá.

Somos incapazes de iniciar uma discussão séria sobre o nosso futuro, que, no caso de nós brasileiros, não se desenha como dos melhores, se considerarmos a realidade do presente. É desanimador ver que, depois de tantas promessas e expectativas de mudanças, nada mudou. Continuamos com as velhas práticas políticas e – assustador – com a velha mania dos agentes públicos de levar vantagem em tudo.

Infelizmente, a corrupção, que é fruto da impunidade, campeia em todos os segmentos, envolvendo políticos e empresários. Nem mesmo diante do risco da morte de milhares os corruptos recuaram e se lambuzaram na farra com recursos que deveriam ser empregados para salvar vidas. Um triste espetáculo de ladroagem que nos expôs diante do mundo, reafirmando a velha imagem de que não somos um país sério. Precisamos mudar. Além de instituições estáveis, a democracia pressupõe instituições sérias. E eleitores sérios. Teremos isso algum dia?

Nesse processo de reconstrução do país, o Judiciário, talvez até mais do que os outros Poderes, terá papel preponderante, e no entanto terá que passar ainda por um trabalho de recuperação de sua imagem, desgastada por decisões polêmicas e, mais grave, por denúncia de corrupção envolvendo alguns de seus membros. A esperança agora tem nome: Luiz Fux.

O ministro assume a presidência de um STF mal visto pela população por seus atos e, reconheçamos, por campanhas sórdidas de grupos voltados a defender seus interesses e proteger membros envolvidos em atos criminosos. Que Fux resista e recupere a dignidade do Judiciário. Torcemos por isso.

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