Há 40 anos, quando o PT iniciou sua luta no campo partidário, seu objetivo era transformar Lula num grande líder político para com ele chegar ao poder. Lula, até então, era apenas um líder operário que, estimulado por lideranças que se opunham ao regime militar, passou a vislumbrar a oportunidade de, com o apoio dos operários, chegar à Presidência da República.
O Partido dos Trabalhadores foi criado para isso. E o povo acreditou que o PT e o carismático Lula, que comandou greves de metalúrgicos pelo país afora, enfrentando a dura repressão militar da época, trariam dias melhores para a classe trabalhadora. Muitos se engajaram naquele propósito.
Lula tinha pavimentado o caminho, criando uma militância tão radical quanto a dos bolsonaristas, se agarrou ao projeto de ser o presidente. Perdeu duas eleições e só quando, estrategicamente, se compôs com o centro – tendo o empresário mineiro José Alencar Gomes da Silva como vice –, foi eleito, em 2002. No primeiro mandato criou políticas que, efetivamente, beneficiaram os mais pobres.
No entanto, com uma base parlamentar pequena, Lula aprendeu que tinha que negociar com o Congresso, cedendo ao toma lá dá cá. E então, dentro do “é dando que se recebe”, a corrupção não teve limites. Institucionalizou-se a corrupção ,e os cofres públicos foram assaltados.
Lula se reelegeu, ressalte-se pelo carisma e pelos bons resultados das ações sociais de seu governo, mas cometeu o pecado da ganância e passou a pensar num terceiro mandato. Sem amparo legal para isso, montou uma estratégia.
Elegeu Dilma, na esperança de que ela ficasse apenas quatro anos. Ele voltaria depois. Mas Dilma gostou da cadeira e se reelegeu para ser “impichada” na metade do mandato já como resultado do processo de desconstrução do PT, iniciado com a lavagem da roupa suja no mensalão e que levou Lula à cadeia e a sigla à derrota para o Capitão.
O ocaso do PT pode ser avaliado pelo baixo prestígio de Lula constatado em suas incursões políticas depois que saiu, provisoriamente, da prisão. Há poucos dias conseguiu montar o que seria uma grande jogada de marketing: uma audiência com o papa. Mas a repercussão não foi a que esperavam. As eleições municipais vão mostrar até onde vai o declínio do PT.
Essa corrida ladeira abaixo do partido talvez só não seja maior por causa da insistência do presidente Bolsonaro em apontar o dedo para acusar o petismo por todos os problemas do país. É uma estratégia política, evidentemente, uma tentativa de polarizar, desconhecendo as demais legendas, escolhendo o adversário para 2022. Se o governo der certo, pode funcionar. Mas, se algo der errado, a estratégia pode favorecer o PT, que chegaria à disputa presidencial como o mais forte opositor do bolsonarismo. Até aqui, por seu descrédito, não é.
O posto está vazio, pela atuação inexpressiva das demais legendas. As eleições deste ano começarão a montar uma nova realidade política no país. Vamos ver o que sairá dela. Lembrando que um presidente não elege um prefeito, assim como um prefeito não elege um presidente.