Não há como negar que o deputado Eduardo Bolsonaro afirmou, com todas as letras, que, se as esquerdas acirrarem o embate político, pode vir um novo AI-5. Não houve, como se quer alegar, mal-entendido ou distorção de palavras. Difícil acreditar que ele tenha dito o que disse sem ter conversado antes com seu pai, o presidente Bolsonaro. Talvez não imaginasse – ou talvez até soubesse, e fez a afirmação de caso pensado – que sua entrevista à jornalista Leda Nagle fosse repercutir tanto, provocando reações como um rastilho de pólvora. Depois da terra arrasada, quis pedir desculpas. Na verdade, o governo Bolsonaro diariamente dá um susto em sua equipe, mesmo se sabendo que ele é do embate.
É que ele e os filhos têm extrapolado. As crises geradas pelos exageros verbais vindos do Planalto e adjacências só não são mais graves, admitem apoiadores – pessoas de peso na sociedade e na política –, porque o presidente formou uma equipe da melhor qualidade para compor seu governo. A começar pelo ministro Paulo Guedes, tido como um dos pilares do que chamam de “nova economia”, que, mesmo aos trancos e barrancos, vai conseguindo avançar nas reformas e no objetivo de modernizar e destravar a atividade econômica. Mesmo que timidamente, a economia está reagindo, resultado, principalmente, da confiança que o governo tem conseguido passar a empresários e consumidores. Os frutos, garantem os especialistas, começam a ser colhidos já em 2020. Mas, queiram ou não, os avanços econômicos obtidos até agora são o resultado da ação dos presidentes Davi Alcolumbre, do Senado, e Rodrigo Maia, da Câmara, que estão fazendo com competência o dever de casa, apesar das trombadas com Paulo Guedes e das trapalhadas políticas de Bolsonaro.
Mesmo com esse fardo, eles têm conseguido fazer as reformas caminharem. Toda essa balbúrdia, essa falta de compromisso com ideias e projetos, mostra que precisamos de uma reforma política que nos permita eleger homens e partidos comprometidos com causas definidas. Uma pena que isso não passe pela cabeça dos congressistas. Imaginar que fariam a reforma seria esperar muito deles.
Esse quadro de degeneração política não é uma realidade apenas no plano federal. Ele existe em todo o país, em todos os Estados. Temos governos estaduais confusos e Parlamentos estaduais despreparados. Sem falar nos municípios, que, em sua imensa maioria, têm gestões calamitosas, fruto de políticos despreparados, sim, escolhidos por eleitores ainda mais despreparados e omissos. É hora de o brasileiro começar a encarar essa dura realidade. O voto não faz a democracia. O que faz a democracia, que por sua vez sustenta o voto, é a participação, a vigilância constante, a seriedade na escolha dos nossos representantes. Lembre-se de que não gostar de política e de político, o que muitos fazem questão de dizer com a boca cheia, não é um ato de rebeldia. É, sim, um ato de covardia, de abrir mão de direitos. Só pelo voto mudamos. Atos institucionais, totalitarismo, não mudam nada.