Com o Congresso e o Judiciário em recesso, o que, convenhamos, não faz muita diferença para o país, Brasília poderá exercitar, em sua plenitude, sua vocação maior, a especulação. A cidade, que gosta de “fofocas políticas”, tem agora motivação especial para isso, pois fomentar a crise é estratégia da oposição para não dar trégua a Temer. Se valer o combinado, faltam pouco mais de 15 dias para a votação, em plenário, do pedido do procurador geral da República, Rodrigo Janot, para abertura de processo, no STF, contra o presidente. Se deixarem tudo quieto, é tempo mais do que suficiente para Temer articular os votos de que precisa.
Agitar é a forma de tentar expor os que têm tendências adesistas. Nessa guerra, Janot, que tem exatos dois meses de mandato como comandante da PGR, tem papel importante. O que a oposição espera dele é a apresentação, se possível em doses homeopáticas para manter a tensão, das outras quatro ou cinco denúncias que prepara contra o presidente. Deve-se esperar também, no mínimo, o vazamento das delações de Palocci, de Eike Batista, do doleiro Funaro, de Eduardo Cunha e de dirigentes de mais uma empreiteira. Se elas já existem mesmo ou estão a caminho, pouco importa, mas, no jogo da especulação para sustentar a crise, vale tudo.
Ainda mais se ela puder ajudar o ex-presidente Lula na “falazada” em sua defesa. É dela que o petismo tira o mote da condenação política, fruto do que chamam de “golpe para acabar com o PT”. O principal subproduto da crise política é a trava na economia que impede a retomada de um crescimento sustentável. E isso também interessa a Lula, que, mesmo com rejeição alta, acima de 50%, ainda lidera a corrida presidencial. Uma colocação que se tem mantido em função principalmente do desemprego. Uma retomada da economia com geração de emprego, de forma consistente, antes das eleições de 2018, poderá ser fatal para uma eventual candidatura do ex-presidente, que até os petistas mais sensatos começam a duvidar como viável.
É que a normalização da economia esvaziaria o discurso de que só ele sabe fazer desenvolvimento com justiça social, justificaria as reformas tão combatidas e traria para o campo da disputa, com força total, o tema da corrupção. Bem, tudo isso se as situações de Temer e Lula não se complicarem ainda mais. E isso não está distante de acontecer. Se Janot tem munição para alvejar Temer, Sergio Moro já tem praticamente concluídos outros processos envolvendo o ex-presidente para dar sentença. Pode ser que em algum seja absolvido, mas, garantem membros da força-tarefa da Lava Jato, dificilmente o ex-presidente escapará de uma condenação no caso do sítio de Atibaia. Nesse processo, as provas seriam bem mais robustas. Duas condenações dificultam, e muito, fazer vingar a tese da inocência e da injustiça.
Bem, começamos falando em especulações de Brasília e acabamos entrando nelas também. Enfim, é do ambiente político, onde mais valem as versões do que os fatos.