O cronista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, um crítico mordaz do cotidiano da vida brasileira, em especial da política, definia como “um verdadeiro samba do crioulo doido” os fatos inusitados de nosso dia a dia. Aqueles que, por mais que se busque, não apresentam uma razão lógica. Por isso, não seria de outra maneira que ele definiria, em articulação, o casamento político entre Lula e Geraldo Alckmin para a composição e uma chapa “tatu com cobra”, visando à disputa presidencial em outubro próximo.
Alguns justificam essa possível aliança argumentando que Lula se elegeu e conseguiu a reeleição tendo como vice o empresário mineiro José de Alencar, numa composição que também causou espanto à época e que teve como objetivo quebrar a resistência da elite a um candidato tido como representante dos operários. Os fatos cuidaram de mostrar que Lula não era bem o “capeta” que se desenhava.
Mesmo assim, há os que defendem que ele se alie a alguém com um perfil mais à direita, e chegou-se a falar numa composição com o atual presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice presidente e avalista de Lula, José Alencar. Josué recusou as sondagens. Mas a ideia de composição com alguém mais à direita permaneceu, mesmo com a resistência de setores petistas.
A aparente opção por Alckmin aumentou a resistência entre as correntes petistas. É que Lula e o ex-governador paulista já tiveram fortes divergências politicas, que se tornaram públicas, que certamente serão exploradas na campanha. Mas, apesar de ter consciência dessas diferenças, Alckmin insiste em ser candidato a vice, com o indisfarçável propósito de bater de frente com o governador de São Paulo, João Doria, na disputa presidencial, de quem se tornou adversário e inimigo político por questões envolvendo a sucessão estadual.
Mas a política brasileira permanece um manancial inesgotável de bobagens que fariam a alegria de Stanislaw Ponte Preta. A mais recente é, sem dúvida, o esvaziamento do ministro Paulo Guedes e a entrega do comando do Orçamento ao centrão na expectativa de, assim, assegurar apoios políticos. Um ato digno de entrar no “Febeapá – Festival de Besteiras que Assolam o País”.
A verdade é que nunca se viu tantos atos inúteis praticados por pessoas inteiramente despreparadas para o exercício político. E o pior é que nada indica que as urnas trarão, em outubro, novos ares para o país, com a ascensão de pessoas mais preparadas, tanto intelectual quanto moralmente, para dirigir o país, num momento em que se preveem fortes mudanças no mundo. Vamos continuar sendo o país do futuro. Um futuro cada dia mais distante.