Desde o final do século XX, está patente em todo o mundo a vitória do capitalismo sobre quaisquer outras formas de organização da economia. O colapso das experiências do socialismo real deixou atrás de si cenários de atraso e miséria que, com exceções, ainda não foram superados. Não há dúvida que delegar ao Estado a função de gestor geral da economia equivale a condenar a população à escassez aguda e constante.
O que não se costuma destacar, entretanto, é que sob o regime soviético foram desenvolvidos mecanismos extremamente avançados de planejamento e controle da produção, além da busca pelo avanço do conhecimento científico. Dessa forma, por paradoxal que pareça, não se pode reputar a perda de produtividade crônica das economias socialistas à própria ação do Estado.
O elemento faltante foi a motivação humana: sob a lógica da distribuição igualitária de renda, sobre a qual se baseava a centralização econômica de molde soviético, a cada trabalhador já cabia a maior parcela da riqueza nacional que poderia lhe ser atribuída. Sendo assim, qual o benefício que se poderia auferir de qualquer esforço adicional feito no trabalho? O egoísmo humano, traço característico de nossa espécie, fazia essa questão ressoar constantemente nas mentes de milhões de trabalhadores, durante décadas, tornando sem efeito as incessantes propagandas governamentais que clamavam por mais empenho no trabalho – em nome do benefício da coletividade.
Por outro lado, o sucesso de economias capitalistas, como a japonesa, a alemã e a norte-americana, também pode ser largamente reputado à grande produtividade de seus trabalhadores – afinal, cada esforço suplementar era recompensado devidamente. A ambição humana impulsiona o crescimento desse sistema produtivo como um todo, pois, no limite, a maior barreira para a prosperidade pessoal seria a falta de força de vontade.
O velho Karl Marx diria, nessa situação, que os ganhos do proprietário dos meios de produção sempre são infinitamente superiores aos dos trabalhadores, especialmente quando estes se esforçam além do normal. É fato, mas, diante da possibilidade de ganho imediato, poucos trabalhadores estão dispostos a se sacrificar em nome de um ganho maior hipotético no futuro – que só viria após uma revolução sangrenta e de resultado incerto. Esse raciocínio, que também não escapou a Marx, seria fruto da alienação do operariado, eternamente tapeado por seus patrões.
Em 2019, quando virtualmente todos têm acesso ao conhecimento sem limites na palma da mão, fica difícil sustentar a hipótese da alienação. Motivação é o conceito-chave que impulsiona o crescimento econômico em todo o mundo, e a nova versão do capitalismo – virtual, móvel e compartilhado – tem se mostrado hábil em produzir novos mecanismos atraentes aos trabalhadores.
De toda forma, seja sob alienação ou motivação, a vida do trabalhador segue cansativa e sofrida. É urgente pensar mais em soluções para esse quadro, e menos em slogans partidários.