O cancelamento da candidatura de Marcio Lacerda ao governo de Minas Gerais tornou a disputa por esse posto uma reedição da tradicional rivalidade entre PSDB e PT. Os candidatos desses partidos terão um alívio considerável para desenvolver estratégias e argumentos “clássicos” em suas campanhas, livres da incerteza causada por uma “terceira via”.
Pimentel, por exemplo, agora pode usar na campanha o discurso que vem praticando há quase quatro anos: dizer que a falência de Minas Gerais já estava configurada quando ele assumiu o governo e que o levantamento de demandas populares em reuniões regionais foi uma revolução na gestão pública mineira. Em sequência, o petista poderá mirar tranquilamente em Aécio Neves e seus problemas judiciais como forma de atingir o PSDB como um todo. Se Marcio Lacerda continuasse na disputa, ameaçando a segunda posição de Pimentel, esse discurso do governador perderia sentido, obrigando-o a buscar novas armas para um adversário diferente.
A mudança no quadro eleitoral, portanto, foi bastante positiva para o petista. Porém, esse fato representa pouco perto dos demais obstáculos que Pimentel tem pela frente para conseguir sua reeleição. Por exemplo, o MDB, que havia sido o grande responsável pela vitória petista em 2014, hoje se encontra cindido em duas grandes vertentes: uma simpática a Anastasia, e chefiada pelo atual vice-governador Antônio Andrade; e outra, que tenta construir uma candidatura própria em torno de Adalclever Lopes, após a inviabilização da coligação com Marcio Lacerda. A numerosa rede de contatos com prefeitos, trunfo histórico do MDB para conquistar votos em todo o Estado, agora joga contra Fernando Pimentel.
O apoio de Lula, por sua vez, será bastante indireto, uma vez que sua própria candidatura à Presidência teve registro negado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Resta a Pimentel se associar à imagem tradicional do PT, buscando para si uma parte do legado positivo que setores da população ainda enxergam nesse partido: uma estratégia razoável, se o atual governador não disputasse um cargo majoritário e, assim, não precisasse da maioria absoluta da população a seu lado. Nesse sentido, a parceria com Dilma Rousseff também sofre da mesma limitação: reforça a posição de Pimentel, porém apenas entre o eleitorado mais devoto do partido da estrela vermelha.
Ajudas externas à torcida petista: é disso que Fernando Pimentel necessita, pois a aprovação de seu governo é de apenas 15%, de acordo com a última pesquisa Ibope. Não por acaso, essa fração é praticamente idêntica à intenção de voto declarada em Pimentel, medida pela mesma pesquisa: 14%, em primeiro turno.
Nesse contexto, temos que apenas as pessoas que consideram Pimentel um bom gestor estariam dispostas a reelegê-lo. Se consideramos que a ex-presidente Dilma Rousseff tinha cerca de 22% de intenções de voto na última pesquisa Ibope, é possível supor que um em cada três dilmistas não gostaria que Pimentel se reelegesse. Portanto, o eleitorado ideológico, tradicionalmente alinhado ao PT, e que tem na reabilitação política de Dilma uma questão de honra, não está inteiramente disposto a apoiar Pimentel, mesmo que a derrota deste leve à eleição de um tucano para o comando do Estado.
Se não pode contar com a capilaridade do MDB no interior, com a popularidade de Lula, ou mesmo com o eleitorado petista mais fiel, com que pode contar Pimentel nesta eleição?