O brasileiro cordial
Se existe um homem gentil, que foge de brigas, polêmicas e discussões; que teve (e tem) mil amigos, famosos ou não; esbanja gentileza, fala mal de ninguém e parece eternamente feliz, este cara é o jornalista e múltiplo Nelson Motta. Já fez e faz de tudo. A seguir, selecionamos um pouco mais. Em entrevista ao caderno “Ela” de “O Globo”, do dia 12, Motta volta a distribuir bom humor, inteligência... e um certo cansaço sobre este triste Brasil.
O maconheiro cordial
Motta disse que fuma maconha há mais de 50 anos, todos os dias. “Tenho uma memória incrível, não sei por quê. Fumo todos os dias, há 55 anos. Talvez seja por ter começado tarde, ali com uns 20 anos. Dizem que quando se começa cedo é que afeta os neurônios”. Motta prossegue: “Meu pai falava que eu era a prova viva desse mito. É bom preservar isso, né? À medida em que as pessoas vão envelhecendo, o HD vai enchendo”.
O cordial lúcido
Motta confessou que tem vontade de deixar o Brasil por conta da polarização política. “Dar um tempo em Lisboa não seria mal, nesse momento”. “O clima no Brasil está muito ruim e isso não é segredo para ninguém. Acho que é possível e torço para que a economia melhore, que aumente o emprego e o salário. Mas essa parte da hostilidade, do antagonismo, isso vai levar anos para se resolver”.
O lúcido estratégico
“Tudo o que foi se construindo de ódio, ressentimento e intolerância não passa só com uma economia boa, pela minha experiência de vida. Um terço adora o Bolsonaro, um terço odeia, e tem os que estão ali no meio vendo o que acontece. É uma situação péssima. Eu gosto de harmonia. E o Brasil é só polêmica. Ver meus amigos brigando me corta o coração. Procuro ficar distante disso e manter o autocontrole”.
Estratégico e sábio
Prestes a fazer 75 anos, dia 29, como Nelson lida com o tempo? “O meu tempo não é cronológico. É lógico, medido pela intensidade. Namoro uma mulher há dois anos e falo para ela que parece que a gente tem dez de casados. Eu moro no Rio, e ela em Brasília. Nos encontramos em fins de semana e viagens. Mas é uma intensidade que vale muito mais do que dois anos de cotidiano chato e tedioso. É sempre lua de mel”.
Sábio e saudoso
Na esteira sobre o tempo, dissertando sobre envelhecer, a “indesejada das gentes”, a morte e começar a ver os amigos partirem, Nelson continuou mandando bem: “Uma espécie de compensação para isso é seguir fazendo amigos novos e mantendo viva a memória dessas pessoas maravilhosas. Nunca mais vou ter outro Vinicius (de Moraes, o poeta) ou Glauber Rocha (o cineasta), mas já tive”.
Saudoso e consolado
“E quem não teve? Gracias a la vida! O que ameniza é ver o crescimento dos seus descendentes, filhos e netos (Nelson tem três filhas, três netos e um bisneto). Acho que tenho lidado razoavelmente bem com isso. É claro que você vai se preocupando mais. Minha experiência é de 95 anos, e o físico, de 45. Acho que é uma média boa, uma matemática consoladora”. Parabéns, ao invejável e exemplar Nelson Motta. (Mais) felicidades.
Curtas e finas
* Belo Horizonte deve sofrer de alguma maldição, tipo cabeça de burro enterrada. Por que nada aqui dá certo? Nada dura e vai para a frente?
* Já no Rio, além da natureza sem igual e de muita história preservada, quem chega de lá traz boas novas.
* Em BH, o Mercado da Boca, no Jardim Canadá, anda meia boca, capengando. Badalou, como espaço novo, na inauguração, depois caiu.
* Agora vem o Mercado do Produtor, no Olhos D’Água, na região dos motéis, BR–356, saída para o mesmo Rio.
* Tomara que, dessa vez, nossas estrelas – queijos, vinhos, cafés, mel e outros produtos da agroindústria – tenham vitrine duradoura.
* Voltando ao Rio, mas inspirado claramente no Mercado da Ribeira, de Lisboa, o histórico prédio do Touring Club, na praça Mauá, sediará o Mercado do Porto Carioca.
* Planos de 100 mil pessoas por mês passeando e consumindo no mercado, que deve ser inaugurado em breve.
* O investimento, orçado em R$ 45 milhões, é do grupo BestFork Experience, do empresário Marcelo Torres.
“Já venho desenhando isso há muito tempo e acho que é algo que falta no Rio, não só para o turista, mas para o carioca. A gente quer ele lá e em um espaço múltiplo, seguro e que todos possam frequentar”, disse Torres, em entrevista.
Restaurantes fixos, espaços que vão alternar marcas, dezenas de volantes, como carrocinhas de pipoca e de sucos; área para apresentações culturais e eventos, barbearia, estúdio de tatuagem e aulas de gastronomia.
12 restaurantes, 20 quiosques, o Açougue do Porto, um Beer Garden de cervejas artesanais, seis bares Cerveja & Soft, quatro bares alta coquetelaria, uma Adega e Wine Bar, um Chefs Kitchen, um Concept Store, internet de alta velocidade gratuita e banheiros especiais.
O prédio que receberá o mercado é em estilo art déco e data do anos 1920. Foi projetado pelo francês Joseph Gire, mesmo arquiteto do Copacabana Palace, Palácio Guanabara e Palácio Guinle.
O que é que o Rio de Janeiro tem que não temos, além do mar? Gente mais feliz?