PAULO PAIVA

A reforma vaga à mercê dos ventos

O governo nunca tornou público um plano estratégico para a recuperação da economia


Publicado em 21 de junho de 2019 | 03:00
 
 
 
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A reforma da Previdência entrou na fase de debates na Comissão Especial. Depois, seguirá para a crucial votação no plenário da Câmara. Muito embora haja evidências de que provavelmente será aprovada, não se tem previsão da extensão de seu conteúdo, nem de quando será votada.

O governo jogou na reforma da Previdência todas suas fichas, arriscando o futuro da economia e do seu sucesso, sem, contudo, tomar as medidas necessárias para sua aprovação, conforme sugeriria a racionalidade estratégica e o bom senso.

Na gestão de um plano, a estratégia é fundamental para a consecução de suas metas, pois se trata do conjunto de decisões e ações visando à obtenção do resultado esperado. Estratégias são conhecidas e usadas nas ações militares e fazem parte da rotina da política, mas inexistem no governo.

A mudança na Previdência Social é considerada o ponto de partida do plano para a retomada do crescimento econômico. É o primeiro passo do processo mais longo de reequilíbrio fiscal e, sobretudo, a reforma da Previdência é vista como um teste da força política do governo. Recuperar a confiança no país será seu efeito imediato.

Assim, poder-se-ia afirmar, com certeza, que quando mais cedo ocorresse a reforma da Previdência, mais rapidamente voltaria o otimismo na economia, abrindo caminho para avanços nas outras reformas e nas políticas de fortalecimento do modelo liberal da gestão econômica.

O governo nunca tornou público um plano estratégico para a recuperação da economia, com objetivos, políticas, programas e metas para o país.

Mesmo sem um plano para a economia, deveria haver uma estratégia para a aprovação da PEC da Previdência. Sabe-se que nunca haverá uma reforma definitiva da Previdência Social. As alterações serão feitas ao longo dos anos, principalmente em resposta às mudanças demográficas. Sabe-se, por consequência, que o mais importante para o governo agora seria ter uma reforma rápida para dar seu primeiro passo, o quanto antes. Todavia, nada disso sensibilizou as decisões governamentais.

O primeiro erro da falta de estratégia foi abandonar a PEC, oriunda do governo Temer, que já estava pronta para ser votada no plenário da Câmara, para submeter uma nova e mais complexa, que teria de passar por todo o calvário de debates, tomando muito mais tempo e expondo o governo a mais desgastes e riscos. O que poderia já está aprovado, ainda tramita na Câmara.

O segundo erro foi imaginar que haveria possibilidade de aprovar sua proposta na íntegra, desrespeitando as normas de negociação na Câmara. Ainda mais, com a opção do presidente Bolsonaro de não construir uma aliança majoritária de apoio ao seu governo. Subestimou-se a força da democracia representativa. O futuro está, então, nas mãos do Congresso.

Assim, sem estratégia, ficam o conteúdo da reforma e a data de sua aprovação à mercê dos ventos e humores da política.

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