Depois da publicação de minha coluna na semana passada, por onde passo, nas ruas do Lourdes, nas filas de caixas dos supermercados, nas mesas dos bares ou na academia do Minas, tenho ouvido a pergunta: “Então, agora vai?” O rosto dos interlocutores mostra a mesma expressão de desejo de uma criança pedindo ao pai um sorvete. Não espera outra resposta, senão o sim.

No entanto, para meus interlocutores, a resposta é “sim” e “não”.

Sim, considerando os próximos dois anos. A combinação de baixa inflação com baixa taxa de juros está tornando as aplicações financeiras em fundos imobiliários atraentes, principalmente por causa da demanda crescente por imóveis nas faixas de renda mais altas, o que resulta na expansão da construção.

Esta, por sua vez, com seus efeitos em cadeia, provoca aumento dos investimentos e geração de empregos em vários outros setores da economia, estimulando o consumo. O consumo das famílias e os investimentos privados estão puxando a economia. Pode-se adicionar ainda o fator psicológico, a expectativa de que as reformas sejam concluídas com sucesso, antecipando decisões de investidores e consumidores. Movimentos que fazem a roda girar.

Todavia, essa expansão, que poderá superar 2% já em 2020, não terá o benefício do “superboom” da demanda e dos preços de commodities do período de 2003 a 2012, porque a economia internacional está perdendo fôlego, principalmente por causa das tensões comerciais entre Estados Unidos e China.

Não, considerando a sustentabilidade do crescimento. Crescimento econômico é um processo de longo prazo que depende de decisões tomadas por governos e pela sociedade. O Brasil, conforme bem definiu Otaviano Canuto, tem um Estado obeso e uma produtividade anêmica, que emperram o crescimento. A obesidade do Estado está sendo tratada pela atual administração com as reformas da Previdência, administrativa, quando vier, e tributária, se vier, e com as privatizações, se acontecerem. Se essas mudanças ocorrerem, se os privilégios de setores importantes do corporativismo estatal forem controlados e se a taxa básica de juros se mantiver em níveis baixos, reduzindo o custo de financiamento da dívida pública, há esperança de que a obesidade do Estado diminua. Um bom desejo.

Para superar a anemia da produtividade, há de se cuidar da educação – na comparação internacional do índice Pisa, o Brasil mantém-se estagnado em níveis medíocres nos últimos dez anos –; reduzir a vergonhosa desigualdade; incorporar novas tecnologias; e aumentar a eficiência da economia, incluída a do governo. São processos complexos e longos, que o Brasil ignorou nos seus últimos 50 anos. Um desejo quiçá inacessível.

Enfim, desinflar o Estado e aumentar a produtividade são os caminhos para o crescimento.

Por fim, crescimento econômico não é destino das nações, mas resulta das escolhas que fazem governo e sociedade.