PAULO PAIVA

Turbulências à vista

Será uma eleição singular, porque, pela primeira vez, estarão se confrontando dois presidentes, o atual, Bolsonaro, que pleiteia sua reeleição, e o ex-presidente Lula, que pretende retornar ao Planalto

Por Paulo Paiva
Publicado em 13 de maio de 2022 | 04:00
 
 
 
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É comum se dizer que cada eleição é única, não comparável às anteriores, pois é determinada por suas próprias circunstâncias. Há cerca de cinco meses, os brasileiros poderão ir às urnas para escolher o presidente que comandará o país nos próximos quatro anos. Será uma eleição singular, porque, pela primeira vez, estarão se confrontando dois presidentes, o atual, Bolsonaro, que pleiteia sua reeleição, e o ex-presidente Lula, que pretende retornar ao Planalto. Somente esse fato já definiria a eleição deste ano como singular.

Mas, o ambiente político é também muito diferente dos anos anteriores. A disputa está polarizada em duas personalidades fortes, personalistas e autocratas, que se nutrem pelo ataque mútuo, obscurecendo o confronto de propostas exequíveis para tirar o país da crise econômica, gerar empregos e melhorar a qualidade de vida de toda a população. Nessas circunstâncias, fecha-se o espaço para alguma candidatura alternativa que pudessem oferecer novos caminhos para o Brasil. Parece muito improvável, uma terceira opção conseguir se qualificar para o segundo turno.

Os dois pretendentes têm também, em comum, fortes estruturas partidárias, que foram construídas ao longo da vida política recente. Lula organiza suas bases alicerçadas no corporativismo sindical, tanto público quanto privado, e no amplo apoio das camadas populares, principalmente do Nordeste, beneficiadas com a expansão do emprego e da renda, em seu primeiro governo, e nos programas de distribuição de renda.

Bolsonaro abandonou o tema central de sua última campanha, que foi o combate à velha política, para unir-se a partidos e lideranças que representam os mais torpes comportamentos da política. No entanto, continua com sua pauta conservadora nos costumes que atrai, sobretudo, as camadas sociais que, devido os desacertos do governo Dilma, perderam emprego, renda e a esperança.

A disputa se dá com agressões, denúncias, fake news e ódio recíprocos, através das mídias sociais. Um prenúncio de que a temperatura irá crescer ainda mais ao se aproximar do dia da votação.

O mais grave, porém, é que ambos entendem que em eleição vale tudo para vencer. Quem não se lembra da frase de Dilma “faz-se o diabo para ganhar a eleição”. Por seu lado, Bolsonaro estica a corda estimulando movimentos que procuram corroer as instituições, pilares do Estado democrático de direito.

Não é sem propósito que o atual presidente e seus apoiadores minam a legitimidade do Poder Judiciário e do processo eleitoral. Não é sem propósito, também, que Lula estimula a radicalização de suas bases tradicionais. Temo que a escalada de polarização e do ódio possa colocar em risco a própria democracia. Há muitas turbulências à vista.

Que, no final, o bom-senso prevaleça e a democracia sobreviva a esse novo teste.

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