A taxa de crescimento da economia brasileira ficou em torno de 1% no ano passado, completando, assim, o pior quinquênio de crescimento do Brasil, após a Segunda Guerra Mundial. Como a nossa população está crescendo em ritmo de 0,8% ao ano, o aumento da quantidade média de bens e serviços à disposição de cada brasileiro é algo absolutamente inexpressivo para um país socialmente desigual e ainda em processo de desenvolvimento.

O país precisa urgentemente acelerar a sua taxa de crescimento econômico, como tem ocorrido na China, na Índia e em outros países da Ásia. De onde poderá vir o crescimento?

Para isso, podemos considerar dois momentos: o curto prazo (o próximo biênio) e o médio prazo (o próximo quinquênio). Em ambos os momentos, trata-se de criar um campo de oportunidades para que os brasileiros possam restabelecer condições mais dignas em termos de nutrição, educação, saúde, habitação e mobilidade social.

No curto prazo, a trajetória de retomada do crescimento passa pela expansão da demanda agregada, em um ritmo que permita a absorção da mão de obra subocupada e da capacidade ociosa instalada em diferentes setores, que se encontra em torno de 30% a 50% do seu potencial produtivo. Dos quatro componentes da demanda agregada, as exportações e os gastos públicos são menos relevantes, pois estão submetidos, atualmente, a fortes restrições: de um lado, as restrições do aguçado protecionismo no comércio internacional e, do outro lado, a generalizada crise fiscal nos três níveis de governo, que restringe a capacidade para realizar políticas compensatórias de defesa dos níveis de emprego e de renda.

Fechando o cerco dos componentes da demanda agregada, sobram o consumo das famílias e os investimentos privados. O primeiro é responsável por quase 70% do total da demanda da nossa economia, enquanto os investimentos, em processo de declínio, estão atualmente na menor relação com o PIB das últimas décadas. Para Keynes, o emprego é função do consumo esperado e do investimento esperado da sociedade. Num ambiente de incertezas sobre o futuro da economia, esses componentes se retraem e se postergam. Sem saída, então?

Um ponto importante: Keynes previa que, quanto maior a provisão financeira necessária para as famílias honrarem os seus compromissos de endividamento, menos favorável à sua propensão ao consumo e à geração de emprego. Ora, as famílias brasileiras estavam, em novembro do ano passado, segundo o Banco Central, extremamente endividadas e, portanto, com a expansão do seu consumo travada. O comprometimento mensal da renda com dívidas, um determinante do poder de compra das famílias, estava em 21%, sendo que 80% do perfil do endividamento era no cartão de crédito, cuja taxa mensal de juros é ainda o dobro da taxa anual da Selic.

Assim, enquanto no médio prazo a taxa de crescimento da economia vai depender dos investimentos líquidos em grande escala, no curto prazo essa taxa poderá ocorrer se houver uma política monetária de refinanciamento das dívidas privadas, desinflacionando as exorbitantes taxas de juros que oneram a capacidade de demanda de famílias e empresas. 

Assim, uma alternativa para acelerar a demanda agregada da economia é a realavancagem financeira do setor privado com taxas de juros bancárias compatíveis com a inflação abaixo da meta.