PAULO HADDAD

O capitalismo natural e o apelo dos que vão nascer

Reinvestir na sustentação e na restauração é a proposta


Publicado em 14 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Diversos institutos de pesquisas científicas têm nos alertado sobre a existência de fronteiras planetárias para além das quais a humanidade não deveria se aventurar. As pesquisas sobre mudanças climáticas, por exemplo, mostram que a crescente emissão de carbono pelo pesado uso de combustíveis fósseis tem desestruturado muitos sistemas naturais da Terra. Entre estes, destaca-se a exaustão das fontes de água fresca, incluindo os aquíferos subterrâneos, em tal ritmo que seu abastecimento regular tornou-se o mais grave problema socioambiental de muitas regiões densamente povoadas, como o Nordeste do país ou a região metropolitana de São Paulo.

Joseph Schumpeter, economista e cientista político austríaco que escreveu suas principais obras na primeira metade do século XX, afirmava que o capitalismo evolui por ondas de inovações e que essas ondas são uma questão fundamental para a prosperidade dos povos. Uma inovação consiste na introdução de um novo produto ou de um processo de produção verdadeiramente novo, capaz de reestruturar os padrões prevalecentes de consumo, de produção e de acumulação de capital de uma sociedade.

Schumpeter sugeriu que o capitalismo progride por meio de um processo de “destruição criativa”, vale dizer, novas tecnologias e novos produtos emergem continuamente e superam as tecnologias e produtos existentes. De 1780 ao início do século XXI, podem ser identificadas cinco ondas de inovação, da máquina a vapor às redes digitais, passando pelas ferrovias, pela eletrificação e pela petroquímica.

Todas essas inovações tiveram profundos impactos no aumento da produtividade do trabalho, sendo, em alguns casos, superior a 200 vezes por hora trabalhada. Discute-se, atualmente, se não estaríamos entrando na sexta onda de inovações, a qual vem sendo denominada de “capitalismo natural”.

O capitalismo natural propõe que sejam realizados reinvestimentos na sustentação, na restauração e na expansão dos estoques de capital natural, a fim de que a biosfera possa produzir serviços de ecossistemas e recursos naturais mais abundantes. E tem a expectativa de que, dentro de uma geração, as nações possam ter um acréscimo de até dez vezes na eficiência com que usam energia, recursos naturais e outros materiais.

O fator limitante do desenvolvimento das futuras gerações virá a ser a disponibilidade e a funcionalidade do capital natural, em particular os serviços ambientais de suporte à vida que não têm substitutos e, presentemente, não têm valor de mercado. É evidente que o processo de transição dos princípios do capitalismo tradicional para os princípios do capitalismo natural deverá ocorrer de forma mais lenta num país com as características históricas, econômicas e socioculturais como o Brasil. Entretanto, a concepção de capitalismo natural está cada vez mais presente na realidade da economia e da sociedade brasileira. As inovações tecnológicas têm avançado celeremente na produção de combustíveis líquidos (etanol, biodiesel), de energia alternativa (eólica, fotovoltaica), de alimentos (plantio direto, agricultura de precisão), de recursos hídricos (reúso da água, preservação de mananciais), na miniaturização de bens duráveis de consumo, em novos materiais poupadores de recursos naturais não renováveis etc.

Os ativos ambientais (bacias hidrográficas, florestas prístinas ou recuperadas etc.) e os serviços ambientais (de provisão, de regulação, de habitat naturais, culturais) têm uma inequívoca contribuição tanto para a produtividade total dos fatores de produção como para o bem-estar social sustentável da população. O apelo dos que ainda vão nascer nos lembra que o futuro dependerá do que fazemos no presente.

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