Nasceram do mesmo pai e da mesma mãe e, ainda assim, são diferentes. Por mais que se assemelhem na voz, no jeito de olhar, num gesto ou no sorriso, cada qual tem sua personalidade. Reações diferentes a cada fato, a cada emoção. Alguns se amam muito, outros nem tanto. Há até mesmo os que chegam a se odiar. Não importam suas relações, queiram ou não, sempre terão o parentesco. São irmãos.
Nos últimos tempos, tenho pensado muito sobre ter irmãos. Na importância desse laço sanguíneo quando ele também é um laço de amor. Penso nos vínculos de companheirismo que essa irmandade é capaz de construir e no quanto sou grata por ter irmãos. E ainda o quanto lamento por meu filho ser único. Não por mim, mas por ele, que terá encontrar “irmãos” pelo caminho.
Quando era mais jovem, conheci duas irmãs inseparáveis. Cecília e Carolina. Eu, ainda na fase das brigas adolescentes com os meus irmãos, me impressionava com tanta união. Achava bonito e até exagerado. A diferença de idade entre as duas era de mais ou menos três anos. Mesmo casadas, encontravam-se quase todos os dias na casa da mãe, de quem cuidaram juntas quando o Alzheimer chegou. Viviam pressentindo o que a outra sentia. Uma amizade bonita de ver.
Também recordo quando a mais nova teve um câncer de mama. Carolina perdeu o chão. Só sabia chorar. Cecília estava lá para ampará-la. Faz tempo que não tenho notícia das duas. Não sei se ainda vivem aqui ou se voltaram para o interior onde nasceram. Espero sinceramente que nada as tenha separado.
Há outros perfis de irmãos. Alguns assumem o papel de mãe ou pai. A Conceição é assim. Nem é tão mais velha que a Neide. Quase regula idade com o Jorge e é mais nova que a Helena. Mesmo assim, manda em cada um deles. Isso, quem está falando sou eu, porque os irmãos, acredito, sentem-se extremamente dependentes das dicas dela. É a Ceição quem ajuda a definir se o namorado e/ou a namorada “servem”, se o emprego é o mais adequado e mais um monte de outras coisas que considero decisões bem individuais. Em todas, ela “se mete”. Pouco importa se foi ou não chamada. Sua missão é simplesmente estar ali, ter opinião.
Mas nem só de amor vivem os irmãos. Há aqueles que não se falam nem estão dispostos a perdoar. Acho triste isso. O bacana de ser irmão está justamente no ato de brigar e, ainda assim, ter que estar junto no dia seguinte (quando vivem juntos) ou na próxima festa de família (quando já saíram de casa). Luiz diz que tentou, mas não aceita o fato de Everton ser, segundo ele, tão ganancioso. Brigaram na época da divisão da herança dos pais. Acho que não se falam há mais de dez anos, embora tenham alguma notícia do outro pelos filhos. Os primos, mais maduros, não romperam elos de amizade. Já as esposas – mesmo dando razão aos respectivos maridos – vez ou outra ainda se falam por telefone. O filho de Luiz me contou que o pai se preocupa com o irmão, fala mal, mas tem saudade dos tempos da infância, quando eram felizes juntos. Triste também é o orgulho.
Irmão não divide apenas brincadeiras ou dramas. Irmão compartilha histórias. A minha está ligada à de outras três pessoas. Um homem e duas mulheres especiais. Cheguei depois, e eles me viram crescer. Foram sempre generosos com a caçula impetuosa. O primogênito me deu canções, ensinou sobre sonhos e foco. A do meio ouviu sobre minhas dores e amores. Também “me ensinou a voar”, a buscar liberdade e alternativas. Já a irmã mais velha me ajudou nos primeiros passos. Ainda hoje, seguimos juntas, de mãos dadas. Todos os dias me ensina a cuidar.
Texto originalmente publicado no dia 11.4.2014