Assim que olhamos para uma pessoa, nosso cérebro faz uma leitura daquilo que é refletido pelos olhos e interpreta de acordo com filtros sociais. O julgamento que faremos sobre o outro estará pautado no que chamamos de vieses inconscientes. Se aqui, no segundo ponto final, você já está com a sensação de que o tema está “cabeça” demais ou de que não faz ideia do que estou dizendo, leia até o final porque este texto é para você mesmo e não só pode te ajudar a ser menos preconceituoso, como também a melhorar suas habilidades no mercado de trabalho. Isso independentemente de você ser branco ou preto. O que a sua carreira e o seu julgamento interno têm a ver com preconceito, que costuma ser o mote desta coluna? Tudo!
Então, vamos por partes. É preciso que fique clara uma coisa: nossa mente trabalha muito por associações. Por exemplo: lá na sua infância, você ouviu alguém falar que usar determinada roupa é indício de que a pessoa não é profissional. Quando você estiver no trabalho e chegar um novo colega com aquele modelo de veste julgada lá atrás, você vai logo pensar que vai ser péssimo trabalhar com ele. A racionalidade diz que o correto seria você avaliar um profissional pelas competências dele. Mas essa “voz” que te coloca contra aquele cidadão só de bater o olho nele é o tal do viés inconsciente. Viu que é uma expressão pomposa, mas é bem simples?
Agora, vamos avançar um pouco mais nisso. O exemplo que eu dei foi simplório. Vamos fazer o mesmo raciocínio, por exemplo, para preconceito racial. Você cresceu em uma sociedade racista, então, foi bombardeado ao longo da vida inteira com falas negativas direcionadas a pessoas negras. Da mesma forma, há um machismo grande e uma homofobia também. Ou seja, hoje você é um adulto, muito provavelmente, contaminado por algum desses preconceitos.
Aí, de repente, você se torna líder em uma empresa e precisa escolher um novo funcionário. Na sala de espera para entrevistas estão aspirantes à vaga de diversos perfis. Sabe qual você terá uma tendência de achar o melhor? Aquele que se encaixa naquilo que, ao longo da vida, você formulou como pessoa ideal. Entende que essa seleção, se você não se vigiar, vai estar atravessada de equívocos?
Digamos que seu avô sempre falasse para você não fazer “serviço de preto”. Racionalmente você sabe que a cor não diz sobre a entrega profissional de ninguém. Só que vai dizer isso para essa “voz” maldita que tenta te dizer o contrário. Justamente por isto a informação sobre essa espécie de “óculos carregado de preconceito” é tão importante: para que, em uma situação como essa, os candidatos possam ser julgados pelas competências, e não pelo que defende o recrutador. Para que você, enquanto liderança, tire qualquer “viseira” que estiver entre você e sua equipe.
Ah, mas se você não é chefe ou não pertence à equipe de recursos humanos isso não faz diferença, certo? Errado. Erradíssimo! Erradão! Os trabalhos que realizamos são em equipe. Então, se você tiver uma birra gratuita com uma pessoa por causa da orientação sexual dela ou porque ela assistia a “Teletubbies” na infância certamente não vai conseguir ter uma relação amistosa com o colega de trabalho. E isso – ah, isso sim – é um motivo e tanto para que seu rendimento caia e o seu empregador conclua que é hora de dar tchau, mas não é para os Teletubbies fofinhos, não. É para você mesmo.
- Portal O Tempo
- Opinião
- Tatiana Lagôa
- Artigo
Tire os óculos do peso social e enxergue verdadeiramente o outro
Você cresceu em uma sociedade racista, então, foi bombardeado ao longo da vida inteira com falas negativas direcionadas a pessoas negras
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