Para a milenar cultura judaico-cristã, Martinho Lutero nasceu na Germânia do século XV e foi considerado um renomado professor de teologia do seu tempo, bem como um monge muito disciplinado no que tange aos ensinamentos agostinianos. Não obstante a sua inequívoca obediência à ortodoxia romana, Lutero revelou-se, desde cedo, contrário a vários ensinamentos originários do hegemônico catolicismo. De fato, Lutero era contrário, por exemplo, ao capitalismo católico, o qual se baseava, nessa época, no perdão divino conquistado pelo comércio de indulgências papais.

Com o objetivo de combater a venda de indulgências, Lutero afirmava que a salvação dos pecadores só poderia ser atingida por meio da graça e da fé em Cristo, e não pela comercialização da remissão dos pecados, pois Cristo seria nosso único salvador. Além disso, Martinho também condenava a infalibilidade papal, afirmando, para tanto, que apenas os Evangelhos canônicos podem ser considerados verdades incontestáveis reveladas por Deus. Por isso, e por outras divergências, Lutero é considerado o principal responsável pela Reforma Protestante, bem como por mais um cisma na Igreja de Roma.

João Calvino, por sua vez, nasceu na França do século XVI e também foi considerado um grande exegeta de sua época. Na mesma linha de Lutero, Calvino combateu várias ideias teológicas vinculadas ao catolicismo. Nessa ótica, Calvino condenou, por exemplo, a idolatria e a devoção à Virgem Maria. Além disso, João sustentava que a salvação só poderia ser conquistada pela fé em Cristo e pela predestinação. Lembramos, assim, que a predestinação calvinista baseia-se, sobretudo, na onisciência, na presciência e na graça de Deus para alcançarmos a salvação. A doutrina da predestinação, além disso, pode ser compreendida, também, como a destinação antecipada de parte da humanidade à salvação segundo a vontade onipotente de Deus. Para o calvinismo, portanto, a nossa salvação não estaria subordinada, em hipótese alguma, à venda de indulgências.

Apesar das divergências bíblicas, tudo indica que Lutero e Calvino, a pretexto de reformas religiosas, objetivavam, na verdade, à divisão do poder espiritual, social, político e econômico, o qual se concentrava em Roma.

De fato, a Reforma Protestante dos séculos XV e XVI visava, sobretudo, à divisão do poder socioeconômico, possibilitando, assim, o surgimento de novas lideranças capitalistas no mundo cristão.

Por conseguinte, as igrejas protestantes e evangélicas tornaram-se, hoje, verdadeiras “sociedades anônimas”, as quais baseiam sua história na busca interminável e inescrupulosa pelo capital, conquistado, nesse caso, pela gananciosa indústria do dízimo e das ofertas a Deus. Fica claro, assim, que nossos irmãos evangélicos e protestantes trocaram descaradamente a venda de indulgências papais pela indústria do dízimo, cometendo, por isso, os mesmos erros praticados pelos católicos do passado.