Seria cômico se não fosse trágico. Três técnicos em seis meses. A cabeça deu um nó, cada treinador implantando um estilo diferente de trabalho e uma nova metodologia. O motorista da van, por exemplo, era o ponteiro do time, o outro motorista era o meio de rede, o preparador físico só aparecia duas vezes por semana na academia, quando aparecia. O responsável pelas mídias sociais era o levantador reserva, que virou ponteiro titular, depois quebrou o braço porque caiu de bicicleta e foi demitido neste mês.
Cheguei a presenciar, por mais de uma vez, um copo de cerveja atrás do banco de reservas, e o proprietário, adivinha, era o preparador físico. Tchecos, poloneses, sérvios, eslovacos, russos e ucranianos desfilavam idiomas no meu time. Já imaginou uma reunião de vídeo em russo? Para entender, só desenhando mesmo. Não tinha outra maneira.
Geralmente os times têm uma “caixinha”. Atrasou? Paga! Sem uniforme? Paga! Uniforme errado? Paga! Coisas desse tipo que são destinadas para o time durante a temporada, como um churrasco com o dinheiro da caixinha ou ajudar uma instituição de caridade, por exemplo.
Por lá, eu assustei: estrangeiro? Paga. Foi entrevistado? Paga. Apareceu na rede social? Paga. Sacou por debaixo da rede? Paga (vergonhoso realmente). Não tomou banho após os treinos? Paga. Não levou a toalha para a musculação? Paga. Não levou a garrafinha com água? Paga. Eu vou morrer e não vou ver tudo nesse mundo do vôlei. Foram surpresas diferentes a cada dia.
Estou dividindo com vocês como funciona em grande parte do mundo e em alguns times que se consideram profissionais. O meu time na República Tcheca tem grandes ambições, equipes de base em mais de uma cidade e dinheiro em caixa para voar mais alto. Recebia antecipado, situação que é incomum em muitos times na Europa. Um amigo meu que jogava em um dos melhores times na Polônia, por exemplo, estava com o salário atrasado havia três meses pelo menos.
Boas estruturas têm, no mínimo, o básico muito bem alinhado e cabeça aberta para novas ideias. Ao longo da temporada fui me descobrindo no time e percebi que eles não estão errados, eles funcionam assim, e eu não fazia parte daquele sistema. Por isso resolvi me dar um período de férias e voltar ao Brasil com minha família.
Vivi entre Minas Tênis Clube e Sada Cruzeiro e fui “mal acostumado”, percebi que em 95% da carreira estive no topo da montanha, e tem muito atleta nesse mundão tentando se virar como pode em times que não sabem por onde começar.