Estou há tempo querendo escrever sobre a liberdade, mas confesso que estou com medo de induzi-los a uma reflexão diferente da qual está passando pela minha cabeça. Voltamos à estaca zero (ou até negativa) da flexibilização em Belo Horizonte e em grande parte de Minas Gerais. Mais uma vez, não podemos sair de casa, não podemos circular livremente pelos locais que desejamos e seguimos sem poder abraçar quem a gente ama.
Como se não bastasse a potência letal do vírus – que já é razão suficiente para me fazer não querer sair de casa –, ainda temos decretos que preveem ações punitivas a quem desobedecê-los. Posto tudo isso, tendo a pensar que estamos diante de uma das piores sensações para o ser humano: a de estarmos presos. E não por termos feito alguma coisa que culminasse na privação de liberdade, mas por algo que independe de nós, da nossa vontade, do nosso controle… Mas afinal, o que é estar preso? É apenas uma sensação, uma imposição legal ou envolve aspectos físicos, como grades, muros e trancas? Eu não sei.
Ao mesmo tempo, faço um paralelo com as pessoas que estão em cadeiras de rodas, que são tetraplégicas e que não se movem sem ajuda de aparelhos e acompanhantes, ou que são surdas ou cegas e estão impedidas de estabelecer a livre e simples comunicação com o falar, ouvir e enxergar.
Para muitas pessoas, pensar em viver nessas condições estaria diretamente ligado à sensação de prisão pela falta de liberdade de poder exercer as habilidade humanas com normalidade, mas, talvez por eu estar cada dia mais imersa nesse mundo da acessibilidade, começo a entender que a sensação de prisão está muito mais na subjetividade humana, do que nas situações pelas quais passamos.
Suponho que vai além da permissão e da capacidade em poder ou não fazer algo, e sim sobre como percebemos a realidade.
Sim, estamos presos legal e fisicamente, mas podemos fazer escolhas, podemos nos adaptar, transformar o que nos prende hoje em oportunidades de liberdade amanhã, e, para mim, isso é ser profundamente livre. Se algo me impede ser livre de uma maneira, eu posso me adaptar para ser livre de outra. Se eu não ouço pelos ouvidos, eu posso me comunicar pelas mãos e olhos. Se não enxergo com os olhos, o faço com as pontas do dedo. Andar, correr... Existem aparatos que podem me ajudar a fazê-los.</CW>
<CW0>Se eu não posso sair de casa neste momento, nem ir aos locais que quero, ver meus pais, viajar para praia ou curtir meus amigos na mesa de um bar, é para estar livre, saudável, plena e viva amanhã. Espero que você faça o mesmo. Fique em casa.