Existe uma tendência irrefreável do homem em acreditar na utopia, algo distante como a Lua, mas que um dia será conquistado.  Cristo ensinou a oferecer a face esquerda a quem esbofeteia a direita e num futuro muito remoto toda a humanidade se comportará assim, talvez em milhares ou milhões de anos, conquistando aqui na Terra a utopia que nasceu no céu.

O bem, infelizmente, sobe a ladeira muito lentamente. Os avanços de geração em geração são quase imperceptíveis.

Joseph Conrad escreveu que excluía de sua obra o sobrenatural, porque admiti-lo parecia negar que o cotidiano fosse maravilhoso. O imaginário o levava à insatisfação, já a aceitação do real, à felicidade.

Feliz não é quenm mais tem, é quem se satisfaz com o que tem. Por isso, no jainismo o monge não tem direito a um só lenço para se encobrir (mesma atitude que tomou São Francisco abandonando a casa de seu pai) e se alimenta apenas do que recebe quando é o que recebe.

Sabe jejuar e aprendeu a tirar do ar as energias que o sustentam. Duro é se acostumar a isso, mas consta que entre os monges jainistas os êxtases se repetem a cada dia e um medidor de felicidade daria a eles o grau máximo nesse planeta.

Ângelus Silesius sustentou que "Todos os bem-aventurados são um e todo cristão deve ser Cristo". A unidade é sinal de bem-aventurança. A ausência de conflitos leva à iluminação e quem chegou lá afirma que o que deixou atrás é pura ilusão, uma miragem no deserto. Confirma o mito platônico do homem acorrentado na caverna.

O indivíduo que faz da matéria seu deus corre o risco do rei Midas que transformava em ouro tudo o que tocava até morrer de fome por não ter como mastigar o metal.

E ainda existem homens que obstinadamente vivem as alucinações de Sísifo empurrando a pedra para uma meta que não existe. Não se apercebem que no vértice da matéria não há um patamar de descanso. Na matéria só existe esforço e não há felicidade. 

Os sofrimentos e as catástrofes são as colheitas da humanidade que desconhece a essência do esforço humano: o Amor, e sua finalidade: a Evolução.

Mas não se precisa imaginar que tudo esteja perdido nem quando acontece o desastre ou chega a morte. Do contrário, para que serviria a eternidade? Ou será que o bom Deus dá apenas uma oportunidader reservando para alguns um berço de rei e para outros não concede, desde o nascimento, pernas para andar ou olhos para enxergar? Uma vida se relaciona com a herança de outras e todas elas compõem as páginas de um livro que tem prólogo e final.

O universo gira que haverá sempre, como renascer, a razão confirma que nada acaba, apenas "muda" e se "transforma". Tudo, constantemente, evolui debaixo de nosso olhar desatento. Haverá sim, como voltar a receber o carinho de uma mãe e a enfrentar tudo de novo até aprender a lição.

O que se precisa é ter coragem e, como implorou Propércio ao se aperceber que uma nova vida o aguardava, pedir com fé: "Que minha cinza fique livre de um amor que me esqueceu", pois não há coisa pior que se perder um amor e não conseguir encontrá-lo.