Ao se pensar em povo “perseguido”, é natural chegar ao israelense, dito também “hebreu” ou “judeu”. As três definições, apesar de convergirem, possuem significados diferentes: hebreu é quem nasceu e morou do “outro lado do rio Eufrates”; judeu, quem “nasceu na região da Judeia”, território da maior entre as 12 tribos hebraicas; e israelense, que é aquele que nasce no Estado de Israel, que significa “quem luta com Deus”.

A ele se devem os cinco primeiros livros da Bíblia, a Torá, que está na base das religiões antagônicas: a islâmica, a hebraica e a cristã.

Os judeus sofreram castigos terríveis no Egito com a escravidão, que teve fim com o êxodo conduzido por Moisés no século XVI a.C. Desde o século VI a.C. foram expulsos de Jerusalém pelo rei da Babilônia Nabucodonosor; no século II a.C., pelo rei sírio Antioquinos Epifânio; no século I, ano 70 d.C., pelo imperador romano Tito; em 115, pelo exército do imperador Trajano; em 135, por aquele do imperador Adriano, resultando na morte de 850 mil hebreus. Disso a colônia passou a ser apelidada pelos romanos de Palestina, como forma de tirar do mapa do império a Judeia, mais tradicional e extensa província povoada pelos hebreus.

Com uma trégua na Idade Média, os exércitos cristãos voltaram com as cruzadas a Jerusalém para conquistá-la e converter a população, provocando outros extermínios no século XI até o XIII, levando a suicídios coletivos de multidões entrincheiradas de mais de 10 mil hebreus. O papa Inocêncio II, no Concílio de Latrão de 1215, decretou perpétua subordinação e obrigou os judeus a usar sinais que os distinguissem. Disso foram decretados os “guetos de hebreus” nas principais cidades da Europa. Em Veneza, de 1516 a 1870, a população hebraica foi confinada entre muros e proibida de sair à noite, sob pena de morte.

No século XX, o Holocausto levou à morte 6 milhões dos 9 milhões de judeus que viviam na Europa. Em 20 de janeiro de 1942, a conferência nazista de Wannsee decretou como solução da questão hebraica a condenação à morte de todos os hebreus.

Somente em 1948, no dia 14 de maio, foi declarado o Estado independente e soberano de Israel, com o apoio das Nações Unidas, especialmente dos EUA. Realizou-se um movimento inverso à diáspora (êxodo em terras estrangeiras). Em 2014, a população reconhecidamente hebraica somava no planeta cerca de 15 milhões, dos quais 5,9 milhões em Israel; 5,3 milhões nos EUA; 500 mil na França; e o restante distribuído pelo mundo afora.

Apesar de ser um povo numericamente pouco representativo, apenas dois milésimos dos 7,3 bilhões de habitantes da Terra, os hebreus produziram, além de Jesus de Nazaré e dos 12 apóstolos, pessoas que influenciaram as ciências, as artes e a economia do planeta. Personalidades como Karl Marx, Friedrich Engels, Sigmund Freud, Albert Einstein, Leon Trotsky se destacam entre milhares de hebreus que alcançaram a fama, determinando mudanças na forma de pensar e viver da humanidade. Famílias como Rothschild, Rockefeller, Goldman, entre outras hebreias, lideram o ranking das mais poderosas do planeta.

Mas que estranha história é essa que faz diferentes e “determinantes” os hebreus?

Como observa Hubert Jaoui, sociólogo hebreu, eles não possuem um papa, um clero propriamente identificável. Ao contrário dos cristãos, usam mais justiça que compaixão, valorizam mais a ação que o pensamento; possuem regras na forma de se alimentar, de fazer sexo, de professar sua religião; aceitam as regras do país onde moram, não se envergonham de procurar a riqueza e os prazeres e têm como obrigação inalienável desde seus primórdios semíticos: a educação dos filhos, os estudos, a pesquisa, realizar e multiplicar.

Um aspecto descrito por Jaoui é a “curiosidade sistêmica”, desvendar os mistérios, ir além do desconhecido, aprendem o dever de estudar a vida toda.

Originou-se uma nação diferenciada, que se considera o “Povo Escolhido por Deus”, e, para se manter como tal, adota uma fórmula matriarcal. Hebreu é apenas quem nasce de mulher que nasceu de mulher hebreia, e assim por diante, exatamente para atender esse legado bíblico.

Único povo que desde sempre aboliu o analfabetismo e que lê por obrigação e se dedica a entender o que não está evidente ao primeiro olhar.

É natural esse sentimento de “elitismo” determinado nas Sagradas Escrituras, reforçado e cimentado por contínuos extermínios, pela diáspora (o exílio), mas mantendo uma forte identificação e “consciência” da missão que lhe é reservada. Os hebreus não são todos iguais, mas, mais que outros, alcançam o ápice de ciência, da literatura, das finanças.

O Brasil, uma amálgama de dezenas de nacionalidades, está em outra sintonia e dimensão, até porque a história o marcou. Invadido pela corte de Pedro I, nos albores do século XIX, manteve a proibição por muito tempo de escolas, impressoras, comercialização de livros, de abertura de estradas, de atracação em portos. Brutalidades que disseminaram o atraso, sistematizaram a exploração material e humana. Foi o último país a proibir a escravidão, em 1888, embora seus efeitos e práticas perdurem até épocas recentes como legado comportamental.

Caso se pretenda desenhar um novo horizonte para o Brasil, é preciso prestar atenção às diferenças, às causas e origens, às condições penalizantes sofridas e, mais ainda, ao “segredo” da educação (valorizado pelos hebreus), que gerou e gera os maiores problemas nacionais. Entre eles, a infelicidade muito frequente na escolha de representantes, de líderes políticos para governar, e até se faz oposição que muitas vezes é uma prática idiota de torcer pelo pior, aspirando ao cenário de desfrute partidário ou pessoal. Sem pensar em alcançar bem-estar para todos e até esquecendo a imprescindibilidade da educação dos filhos.

Vige ainda a forma primitiva, “das cavernas”, do tipo “é bom pra mim, o resto não importa!”. E depois se grita que as coisas andam de mal para pior.

É exatamente por essa forma egoísta que o país não consegue implantar reformas, que mundo afora se deram faz tempo. A prática, nessa situação de solidão intelectual, leva a brigas homéricas a bordo, enquanto o navio Brasil vai naufragando.