Final de ano é o melhor momento para se recolher debaixo de uma árvore ou na penumbra do quarto para analisar os acertos e erros que cometemos. Mais produtivo ainda seria dividir ao meio uma folha de papel listando erros de um lado e acertos do outro. Fixados, assim, em poucos centímetros, poderão servir por um ano inteiro. A autocrítica nunca é demais. Meio precioso de ampliar a consciência, fornece lucidez para enxergar a vida.
Creio até que o envelhecimento das nossas células se relacione com a incapacidade de reconhecer nossas limitações e culpas, portanto com um primitivo orgulho, que, em muitos casos, agrava-se com o passar dos anos. O frescor, a beleza, o brilho do olhar de certas pessoas refletem exatamente a capacidade de se exporem como culpadas.
Peguem assim um lápis e anotem: “Tratei grosseiramente fulano, não atendi beltrana, deixei de corresponder (e podia) à expectativa do tal, freei quando tinha que acelerar, deixei acumularem minhas obrigações, não pensei que um gesto inútil geraria dores alheias...” e por aí em diante. Correndo o calendário de 2021, encontraremos dezenas de censuras para fazer a nós mesmos.
Ao lado podemos anotar os acertos e descobriremos, assim, que foram poucos. Dará vontade de rasgar aquela folha, mas a deixemos na gaveta.
Sua importância aumentará a cada mês. Também é uma boa hora para traçar metas, não apenas materiais, mas morais, espirituais, de amplo e universal sentido, considerando nossa esfera em sua plenitude, e não por seções desligadas umas das outras. “Mens sana in corpore sano” era exatamente o equilíbrio da realidade humana, segundo os romanos.
Grande parcela da humanidade não compreende que a humilhação e o sofrimento dispensados aos outros se refletem no desequilíbrio nosso e no do mundo inteiro. Quem planta cizânia um dia deverá enfrentá-la.
Há coisas pequenas e boas também a se desejar: que o vizinho diminua o volume do som; que a cachorrinha não faça suas necessidades logo no melhor tapete; que a cozinheira não erre com o sal na sopa; que o companheiro de trabalho passe a usar um bom desodorante; que o pé de manga plantado com carinho dê seu primeiro fruto. Que nosso lar possa contar com a felicidade e a prosperidade, assim como desejo a todos os meus leitores e a você que me lê neste dia.