Precisando como nunca de estadistas, o Brasil enfrenta a praga dos oportunistas, encravados no vértice do cenário político nacional. O país ficou refém da mediocridade e da hipocrisia que sequestram o potencial de progresso e crescimento social, econômico e moral.
A prioridade não é mais o bem do país, a superação do atraso e da pobreza, a melhoria dos sistemas de saúde, de educação, mas o enriquecimento injusto, sem trabalho, de alguns, em desfavor da maioria.
A corrupção disseminada em várias formas e dissimulada na burocracia, na capilaridade da máquina pública, na artificialidade jurídica, no abuso de prerrogativas funcionais desfigurou a função do Estado. Este não está mais para servir à população, mas para se locupletar, prevaricar, dificultar, sem esconder o avanço da tendência ao empoderamento perverso, que se traduz “em criar dificuldades para vender facilidades”.
Não há como condenar alguém em especial pela derrota dos princípios constitucionais e pela consequente frustração das esperanças das últimas gerações.
Trata-se do resultado mais lógico de uma jovem democracia, de um conjunto humano sem capacidade de entender, escolher o que é melhor para ele e para uma nação.
Para uma população educada, medianamente intelectualizada, profissionalizada, experiente, é mais fácil escolher, entre candidatos, o melhor, ou “o menos pior”. A qualidade insuficiente do ensino público para mais de 90% da população, notadamente a mais carente, gerou um abismo em relação às classes mais abastadas com acesso ao sistema educacional privado. A falta de ensino se reflete na baixa capacidade de escolha do futuro eleitor, na possibilidade de ser usado como massa de manobra eleitoral.
Veja-se agora, no pós-pandemia, a impossibilidade de se encontrar consenso no retorno às aulas das escolas públicas, paralisadas há quase dois anos, enquanto as privadas estão funcionando há meses. Exatamente quem mais precisa é deixado para trás no seu legítimo direito à educação.
Quem é educado e instruído saberá aproveitar melhor seu voto, e isso influenciará o bem-estar da nação.
Se um conjunto de crianças, em sua ingenuidade, costuma avançar no bolo açucarado, sem entender a inconveniência para sua saúde, da mesma forma age um eleitorado sem noções mínimas de conhecimento. Nas eleições das últimas décadas, entre as opções disponíveis, escolheram-se bolos enfeitados em desfavor de uma comida saudável. Gatos por lebres, figuras de baixa escolaridade no lugar de figuras consistentes, com passado de realizações, de bagagem de realizações, de conhecimentos.
Se o grande mestre Jesus Cristo se expressou por parábolas de profundo conteúdo moral e filosófico, que abriam a compreensão do mais humilde quanto a despertavam no mais intelectualizado, os candidatos que invadiram a cena eleitoral brasileira abusaram de promessas, sem ter projetos, planos, conhecimentos consistentes, experiência de sucesso. Apenas se mascaram suas lacunas, inclusive as éticas e morais.
Prometeram absurdos, apelaram enganosamente aos sentimentos mais pungentes, prometeram “o contrário” do que pensavam, consumando as piores traições, como corrupção e abuso.
De denunciantes de imoralidade e da corrupção dos outros, acabaram por superá-las muitas vezes, destruindo as finanças públicas do país, desviando e subtraindo do povo o que se destinava às necessidades básicas de saúde, de educação, de infraestrutura, de oportunidades e, mais ainda, de exemplos de probidade, austeridade e ética.
Como passageiros que ocupam um vagão que não dá acesso à cabine de comando, os eleitores acabaram por escolher condutores sem qualificação, que levaram à desgraça.
O sistema democrático tem dificuldade de reconhecer os melhores, até porque os mais capacitados encontram formas seguras de se realizar em setores privados. Também cresceram demasiadamente o repúdio e o medo do sistema político, protagonista de escândalos colossais, após a retirada das cortinas sobre mensalões e petrolão.
As disputas eleitorais excluem a parcela bem-intencionada e preparada da população. Aqueles que não desejam se confundir com a selva política dominante.
Agora, mais do que nunca, a possibilidade de um indivíduo bom e preparado se dispor a concorrer com êxito numa eleição ficou mais limitada, especialmente depois da introdução do financiamento público de partidos e de campanhas. Deram-se recursos exorbitantes aos detentores de cargos e regras excludentes para os demais.
Os mesmos que destruíram a credibilidade do Brasil, face à fragilidade intelectual do eleitorado, se reapresentam para mais uma rodada de horrores?
A falta de reconhecimento dos riscos que se escondem atrás de certos candidatos repetirá os erros do passado?
O ano eleitoral de 2022 vem aí, e poucos são os sinais de se poder avançar no desenvolvimento, na eliminação do sofrimento da população, da pobreza material e moral que atrasa tempos melhores. É lamentável, e a qualidade da educação pública precisa ser lembrada como uma causa excludente de milhões de indivíduos e de uma democracia mais fecunda e madura.