Na terça-feira, a Anvisa, vinculada ao Ministério da Saúde, publicou a decisão que restringe o uso da ivermectina, submetendo-a à obrigatoriedade de prescrição médica enquanto durar a pandemia.
Isso aconteceu, exatamente, na fase mais aguda de disseminação da Covid-19, quando se registra o pico de óbitos, com média diária, na última semana, de 1.065 mortes.
O que é a ivermectina? E por que tantas precauções e restrições de uso, depois de décadas de liberação praticamente incondicional?
Ao se ler a bula do medicamento, depara-se com um quase inócuo antiparasitário, adotado no tratamento de população exposta a inadequadas condições sanitárias. Comumente empregado para uso humano e veterinário, tanto pediátrico quanto adulto, provoca um efeito vermífugo, ataca o sistema nervoso dos vermes e dos parasitas como sarnas, piolhos e congêneres, levando-os a sucumbir.
Até a última segunda-feira, a Anvisa não havia determinado restrições à ivermectina, mas na terça decidiu que só depois da passagem da pandemia voltará a liberar seu uso como anteriormente. Dá para entender? Esse medicamento passa a ser perigoso apenas em época de pandemia?
Não tem sentido, segundo a “ciência” que sempre colocam em causa. Perigoso agora, perigoso depois! Parece que vivemos num país de idiotas e oportunistas.
São raros os médicos, que eu conheço, que não tenham adotado a ivermectina para si e suas equipes de enfermagem, como auxílio profilático e terapêutico.
Recentemente, uma sumidade em medicina que tenho o prazer de consultar anualmente, depois de ter recebido transplante de fígado em 2011, me aconselhou o uso. Confessou-me que ele contraiu a Covid-19: “O único medicamento que adotei foram duas doses de ivermectina depois de constatado o contágio”. Outro médico-cirurgião de ponta: “Eu tomei, e todos os meus assistentes tomaram como profilaxia”.
Eu de ciência médica não entendo nada, mas eles entendem muito. Participam de congressos internacionais, atuam no melhor hospital do Brasil, e, para se conseguir uma consulta com eles, tem fila de meses.
Mais ainda. Fui procurado, insistentemente, há quatro semanas, na Prefeitura de Betim, por dois médicos “grisalhos” e voluntários, que representavam um grupo de 20 colegas, todos subscritores de um pedido para organizar uma campanha antiparasitária com dispensação em larga escala de ivermectina, especialmente para a população exposta a maior risco: acima de 60 anos e portadores de comorbidades.
Os médicos defendem que o medicamento tem efeito profilático e terapêutico no enfrentamento da Covid-19. Declararam fazer uso pessoal e ministrar a familiares e pacientes. Insistiram que especialmente para idosos com mais de 60 anos seria recomendável e urgente a distribuição.
A bula da ivermectina alerta sobre riscos a gestantes, cardiopatas etc., como de resto tem em 99,9% das bulas de medicamentos à venda nas farmácias. São recomendações “cópia e cola” para evitar ações indenizatórias de pessoas que venham a ter problemas durante o uso do medicamento. Existem sempre efeitos fora da curva, e as precauções evitam responsabilidade e dor de cabeça aos laboratórios com eventuais indenizações. Por via das dúvidas, vai tudo na bula.
A ivermectina tem de bom o baixíssimo preço; uma dose de três comprimidos de 6 mg tem um custo de matéria-prima de R$ 0,66. Isso mesmo. Tenho a nota fiscal para comprovar.
A Anvisa zela pela saúde da população e atua na vigilância sanitária nacional. Pois é. Vejamos as incongruências dessa vigilância.
O tabaco, que mata no mundo, a cada ano, oito vezes mais que a Covid-19, é liberado sem prescrição e sem bula.
Ao se entrar no site da OMS, pode-se verificar: o tabaco mata até metade de seus usuários; mata mais de 8 milhões de pessoas a cada ano. Mais de 7 milhões dessas mortes são resultado do uso direto do tabaco, enquanto cerca de 1,2 milhão resultam da exposição de não fumantes ao fumo passivo; quase 80% do 1,1 bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda; o consumo desse produto gera um grande impacto na saúde, matando uma pessoa a cada quatro segundos no mundo e uma pessoa a cada 34 segundos nas Américas.
O Datasus, gerido pelo Ministério da Saúde, alerta: “O consumo de álcool foi responsável diretamente por pelo menos 16,5 mil mortes em 2018”. A conta, no entanto, é conservadora, porque não inclui acidentes de trânsito ou outras causas de óbitos influenciadas pela bebida, uma vez que elas não entram nos registros e nas estatísticas oficiais. Mas, se forem somadas as mortes por cirrose, o total chega a 25,6 mil casos no Brasil por ano. Um estudo publicado na “Revista Brasileira de Epidemiologia”, em maio de 2017, estimou que 48% das mortes por cirrose sejam causadas pelo álcool.
Ora, com números tão acachapantes, o tabaco e o álcool são liberados e estão à venda em milhões de bares. A Anvisa, que cuida da saúde do povo brasileiro, ainda não deu disposições para restringir a venda do tabaco e do álcool apenas nas farmácias e com prescrição médica?
Quantos bilhões de reais jogam fora os contribuintes que não fumam e não bebem álcool para o tratamento de saúde e pelos estragos decorrentes dos consumidores que, sem prescrição médica, usam substâncias tóxicas vendidas sem bulas, sem prescrição e acompanhamento dos médicos?
Num futuro longínquo, nossa geração será julgada como primitiva e insensível. Enquanto proíbe a ivermectina, inócua e talvez benéfica, “durante a pandemia”, libera tabaco e álcool!!!
Em que país vivemos?