Na semana passada, fui convidada a proferir uma palestra na Academia Mineira de Letras, em que a pauta era “Mulheres”. Para quem me conhece, sabe que não foi bem uma palestra, com aquela formalidade, dados e pesquisas que elas normalmente requerem. Diria que foi uma conversa descontraída, cujo conteúdo me deixou à vontade para falar durante uma hora, sem pausas.
Dizem que nós, mulheres, falamos em média 7.000 palavras por dia, enquanto os homens falam 4.000. Pelo jeito gastei minha cota numa única tarde, afinal, o universo feminino é uma fonte inesgotável de pautas, e eu, fascinada pelo tema, não deixei por menos.
Segundo Daniel Godri, os homens usam um cantinho do lado esquerdo do cérebro para falar. Nós, não, nós usamos o lado esquerdo todo e, se bobear, ainda usamos o direito.
Alguém já viu um amigo passar 45 minutos no telefone com outro? Pois é, a gente passa numa boa, assuntos os mais diversos despencam em profusão na nossa cabeça, e é uma delícia quando dispomos de tempo para compartilhá-los.
Mulheres são tão incríveis que, numa mesa com dez amigas falando ao mesmo tempo, elas conseguem se entender perfeitamente. Aliás, essa capacidade de pensar e fazer simultaneamente diversas coisas também é uma de nossas prerrogativas. Atendemos o telefonema da mãe, enquanto explicamos ao marido o problema do carro e pedimos pelo amooor de Deus para o filho mais velho abaixar o som, ao mesmo tempo em que, nos braços, acalentamos um bebê. Simples assim.
Tudo bem que, de vez enquanto, surtamos. Às vezes nos esquecemos de deletar algumas coisas da cabeça, principalmente as preocupações desnecessárias.
Infelizmente, nós, mulheres, temos a mania de querer carregar o mundo nas costas, com todos os seus trilhões de problemas, muitos dos quais não nos dizem respeito.
Fazer o quê? Acho que, desde que o homem de Neandertal saiu para caçar, nossas cabeças já começaram a se “pré-ocupar”. Ou seja, a ser ocupadas com coisas que poderiam acontecer, sequer aconteceram e sabe-se lá se acontecerão.
Penso também que o início das nossas conversas quilométricas vem daí, quando ficávamos confinadas na caverna, vendo os homens saírem atrás de mamutes. Ficávamos ali, ao lado da fogueira, amamentando os “neandertalzinhos”, enquanto discutíamos a origem da pedra lascada. Cada uma com sua opinião formada.
Depois, com o passar das eras, a coisa foi mudando. Continuamos nos preocupando, só que por motivos diferentes. A mãe que está envelhecendo, o namorado esquisito da filha, o filho que inventou de comprar uma moto, o chefe que nos tira do sério, a droga ameaçando a juventude, as novelas despejando lixo nos lares, a violência nas ruas, a calça que não abotoa, o vizinho complicado, a gripe que não sara, as doenças do estresse, do mosquito, a angústia da espera, o celular que não atende, as contas da água, da luz, do telefone e da mercearia, que, somadas, viram gastrite.
Preocupações e “pré-ocupações” precisam ser diferenciadas. Uma é fato, de fato. Outra é talvez, quem sabe... Enfim, chega o momento de pôr ordem nos pensamentos, acalmar a mente e refletir. Hora de ouvir, falar, desabafar, dividir, deitar no ombro, acarinhar. Hora de procurar as amigas, porque, sem dúvida, são elas a nossa melhor cura e terapia.
- Portal O Tempo
- Opinião
- Laura Medioli
- Artigo
Nós, mulheres
Infelizmente, nós, mulheres, temos a mania de querer carregar o mundo nas costas, com todos os seus trilhões de problemas, muitos dos quais não nos dizem respeito
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp