No mês passado um episódio trágico virou uma discussão nacional quando uma criança de 11 anos teve seu braço decepado por um tigre durante uma visita a um zoológico em Cascavel, no Paraná.
O menino estava acompanhado do pai e de um irmão mais novo. Segundo relatos e documentação em vídeo, o menino levou ossos para dar aos animais e colocou seus braços dentro da jaula. Antes de irritar o tigre com sua abordagem exagerada, ele havia incomodado um leão, com incentivo do pai.
É importante não perdermos a perspectiva de que a única vítima nessa história é o tigre. Nenhum animal nasceu para viver em cativeiro e ser exibido como peça de museu. Do ponto de vista do animal, o menino era um bully, patrocinado pelo zoológico e pela sociedade que valida sua exploração e humilhação.
A atitude do pai da criança foi típica de muitas pessoas que visitam zoológicos. Eles veem o animal encarcerado como um ser inferior que o dinheiro do ingresso permite caçoar, um brinquedo de carne e osso.
Como espaço simbólico, o zoológico é um mecanismo de reforço da superioridade especista.
Os zoológicos se tornaram, com o passar dos anos, o equivalente do freak show da era vitoriana, em que pessoas deformadas e de raças “inferiores” eram exibidas em salões nos países “civilizados”.
A natureza dos animais não humanos é apresentada como algo exótico, uma anomalia, uma máquina animada. É exatamente a antítese da educação sobre animais que os proponentes de zoológicos propagandeiam.
Outro argumento é que zoológicos, em alguns casos, fazem um trabalho preservacionista. Mas quantos deles realmente fazem isso?
Até na rica Dinamarca um bebê girafa perfeitamente saudável foi morto por razões logísticas. Ao que parece, trata-se de uma prática comum em zoológicos porque eles são operações comerciais que visam ao lucro. Zoológico é business; o animal, seu bem-estar e até mesmo o seu direito à vida vem em segundo lugar. No caso de zoológicos públicos, os animais padecem com a falta de comida e cuidados adequados.
Para fins preservacionistas existem santuários e reservas ecológicas.
O melhor lugar para qualquer animal é seu hábitat natural. Se esse foi totalmente destruído, e restou apenas meia dúzia de representantes de uma determinada espécie, eu penso que é melhor que ela se extinga do que existir apenas em cativeiro.
Se o episódio de Cascavel servir para alguma finalidade, eu espero que seja sublinhar que essas entidades são mecanismos de exploração de animais. Já virou rotina nas redes sociais o compartilhamento de fotos de animais magros e tristes em zoológicos, como o urso polar deprimido em Mendoza, na Argentina, que, apesar da pressão internacional, não foi liberado para uma vida mais feliz. Os animais enlouquecem nesses espaços, onde eles não podem explorar seus instintos. Em Cascavel, o menino perdeu um braço, mas o tigre em questão e todos os outros animais em zoológicos perdem sempre o que é mais importante para eles: sua liberdade e autonomia.
Lobo Pasolini é jornalista, blogueiro e videomaker. Ele escreve sobre energia renovável e questões verdes para www.energyrefuge.com e www.energiapositiva.info
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