O treinador do francês Renaud Lavillenie, medalhista de prata no salto com vara na noite de segunda-feira, disse que o brasileiro Thiago Braz da Silva contou com a ajuda do candomblé para saltar 6,03 m e conquistar a medalha de ouro. Oui, monsieur Philippe d’Encausse, inclusive, essa ligação assim tão íntima com o místico faz do Brasil um grande campeão, basta ver o lugar que o país ocupa no quadro geral de medalhas.
A pérola de d’Encausse veio depois de seu atleta comparar as vaias que recebeu da torcida brasileira àquelas sofridas por Jesse Owens nas Olimpíadas da Alemanha nazista em 1936. O francês só esqueceu de um detalhe: o atleta negro norte-americano, diante não apenas das vaias da torcida, mas do olhar de Adolf Hitler, ganhou quatro medalhas. Quatro!
A comparação, portanto, não poderia ser mais infeliz. Não somos nazistas, e Lavillenie nem passa perto do que foi Jesse Owens.
Não que eu esteja de acordo com as vaias. Acho péssimo e chego a ter vergonha da atitude dos brasileiros. Mais ainda depois de ouvir o mito Usain Bolt, mesmo sendo ovacionado pelo ginásio, dizer que estava “chocado, sem palavras” com a reação da torcida em relação a seu rival norte-americano, Justin Gatlin.
De qualquer forma, não dá pra engolir quem faz críticas à falta de postura da torcida e não olha o próprio umbigo. Não ter fair play, mon cher, é culpar as vaias ou acreditar na macumba pela derrota. Não ter flair play é não cumprimentar o adversário vitorioso. Não ter fair play é não reconhecer que o outro foi melhor do que você – cinco centímetros, para ser mais exata.
Renaud Lavillenie não tem moral para falar da atitude da torcida brasileira, excusez-moi. Recordista mundial da modalidade, com um salto de 6,16 m, alcançado em 2014, o atleta e seu treinador apenas não suportaram a “ousadia” de um “novato” atingir o recorde olímpico, elevando sua aposta. Um “novato” que, aliás, já tinha deixado o francês em segundo lugar no torneio de atletismo indoor ISTAF, em Berlim, em fevereiro passado.
O atleta brasileiro parece ser o pesadelo de Lavillenie Renaud. Para nós, Thiago Braz da Silva é um sonho.