A nítida superioridade e a goleada do Paris Saint-Germain sobre o Barcelona foram situações atípicas ou uma demonstração da queda coletiva do time catalão?
O Barcelona, nos últimos anos, não acompanhou a evolução coletiva das outras grandes equipes. Depende demais de alguns magistrais jogadores, além de não ter um bom lateral direito nem bons reservas. O Barcelona é a única grande equipe que só tem uma maneira de jogar e que nunca recua para bloquear os espaços perto de sua área, como se isso ferisse a tradição e o encanto da Catalunha. O time também não recupera a bola, com facilidade, no campo adversário, como fazia.
Hoje, todos os grandes times alteram, durante a partida, a marcação mais adiantada com a mais recuada. São bons na defesa e no ataque. Foi o que fez o PSG. Recuperou a bola, na frente e atrás, para contra-atacar. O contragolpe começa quando se recupera a bola. Pode ser perto da área do outro time. No futebol, a maioria dos gols sai em contra-ataques.
Na quarta-feira, Santos e São Paulo também alternaram, com eficiência, os dois tipos de marcação. Qualquer que tenha sido a atuação ontem do São Paulo, o time tem duas grandes promessas, Rogério Ceni e Luiz Araújo.
O comentarista Vitor Sérgio Rodrigues, do Esporte Interativo, perguntou a Tite, no estádio e logo após o jogo entre PSG e Barcelona, se o Brasil tinha um meio-campista tão bom quando o italiano Verratti. Ele e os franceses Matuidi e Rabiot atuaram muito bem, de uma área à outra, alternadamente. Tite elogiou Verratti, mas não respondeu a pergunta. Ele sabe que o Brasil não tem, apesar das boas atuações de Renato Augusto, auxiliado por Paulinho. Casemiro, que está muito bem no Real Madrid, joga mais atrás.
Enquanto na Europa forma-se, há muito tempo, um grande número de excepcionais meio-campistas, organizadores e com ótimo passe, símbolo do jogo coletivo, no Brasil e na América do Sul, predominam os meias e atacantes velozes, dribladores e agressivos, símbolos do talento individual.
Uma das razões da falta de craques no meio-campo do Brasil foi a rígida divisão que houve, tempos atrás, entre os volantes que marcam e os meias que atacam.
A história, a economia, a psicologia e a evolução do comportamento social nos dois continentes ajudam também a explicar a formação diferente dos jogadores.
Muitas pessoas, que trabalham ou não com futebol, estranham e criticam o fato de o Brasil, conhecido pelo futebol arte, seguir hoje conceitos e estratégias europeias. Acham ainda que foi essa a razão da queda de nosso futebol. Não é por aí. Com o tempo, houve uma evolução, mais na Europa que no Brasil, da estratégia, do jogo coletivo e de tantos outros detalhes técnicos e táticos. Antes, o Brasil ganhava com habilidade e fantasia. Agora, só ganha se tiver também um ótimo conjunto.
Não se pode confundir também habilidade, a intimidade com a bola e a capacidade de não perdê-la diante do adversário, com técnica, a execução dos fundamentos da posição e de fazer as escolhas corretas. Cristiano Ronaldo possui uma extraordinária técnica, sem ter muita habilidade.
É muito prazeroso e bonito ver alguns times atuais unirem uma excepcional estratégia e a intensidade de jogo com o talento e a improvisação de muitos jogadores. O futebol arte não morreu.
Clássico
Hoje, é dia de clássico. O Atlético é nitidamente superior, mas, no clássico, essa diferença técnica não costuma ser grande.
O América, contra o Flamengo, mostrou uma ótima organização defensiva, mas faltou talento quando recuperava a bola. O ataque do Atlético terá grandes dificuldades.
Assim como Otero, Danilo se destaca pelas finalizações. Elias terá de chegar à frente, de surpresa, como sempre fez muito bem. É clara a preocupação de Roger em ter um time compacto e forte no sistema defensivo, deficiência do Atlético no ano passado.
Ainda não vi a eficiência na posse de bola e na troca de passes, características principais do Grêmio, sob o comando de Roger. Ainda é cedo para uma melhor avaliação.