Segunda-feira é dia de Exú, entidade que representa o princípio de tudo, a força da criação. Por isso, o movimento artístico e político negro de BH parte deste dia para criar um espaço de criação, experimentação, reflexão e discussão – indo de debates sobre estética artística ou temas na ordem do dia, como o feminismo ou questões sobre gênero e sexualidade. Em resumo, esta é a proposta da SegundaPRETA, que agora chega a sua 6ª temporada. Reunindo 11 espetáculos, em diferentes formatos, o projeto vai ocupar o Teatro Espanca! a partir da noite desta segunda (8), se estendendo até 12 de novembro.
Recebendo inscrições de artistas de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul, os organizadores da SegundaPRETA explicam que não recorrem a um eixo curatorial tradicional. “Abrimos um chamamento pelo segundo ano e, desta vez, tivemos 29 inscritos. Para decidir os 11 selecionados, priorizamos aqueles que ainda não tinham se apresentado no espaço e que tivessem temas que são urgentes e que representassem diversos formatos”, expõe Ana Martins, uma das integrantes do projeto. Ela lembra que as propostas que se candidatam são examinadas por todos, sem um grupo específico responsável pela curadoria.
O SegundaPRETA, como já fez em outras edições, volta a homenagear uma mulher negra viva. Desta vez, a escolhida foi a capitã de Reinado Pedrina de Lourdes Santos – considerada a primeira capitã de Massambique de Minas. “Cada uma dessas mulheres que são celebradas por nós traz uma dimensão da negritude. Entre outras trajetórias, ela traz esse legado religioso”, destaca Ana Martins.
Além disso, volta a compor o projeto, pela quarta vez, a SegundaPRETINHA, que traz para o público infantojuvenil a contação de histórias Mitos de origem africana. Por ser voltado para crianças e adolescentes, a apresentação acontece na sexta-feira (12).
Gênero em pauta
Neste ano, a SegundaPRETA traz em seu âmago questões relativas ao universo LGBTQi+. O espetáculo de abertura da temporada, “6 Fragmentos de uma História em Desalinho”, da Cia Basalto de Artes de São Paulo, por exemplo, está calcado neste debate.
O tema atravessa também a performance “Gala”, do coletivo mineiro As Talavistas. Inspirado na tela “Um jantar brasileiro”, do francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), os artistas buscam refletir a partir da representação da sala de jantar, “um lugar que é historicamente da burguesia”, expõe Pink Molotov, artista do grupo.
“Esse é um dos primeiros retratos da burguesia brasileira, ainda na época da Colônia. Ali estão um casal branco, uma mulher e dois homens negros escravizados, prontos a servir, e crianças negras ao pé da mesa, recebendo migalhas”, observa Pink. A cena se desenvolve “até chegar na demonstração dessa masculinidade colonizadora do branco, que traz essa legalidade sobre os outros corpos presentes ali, essa legalidade de fazer o que quiser sobre todos aqueles, como se fossem posse”, examina.
Pink avalia que é oportuno ocupar um espaço de debate do movimento negro com debate sobre gênero, sexualidade e afeto. “Temos que falar de outros processos, existências, outras possibilidades de masculinidade dentro do movimento preto. Falar para os nossos pretos, que têm o afeto violado através dos processos de colonização e de diáspora, que existem formas alternativas à essa masculinidade tóxica”.
SegundaPRETA - 6ª Temporada
Quando Estreia dia 8 (segunda), às 20h, com espetáculo “6 Fragmentos de uma História em Desalinho”, da Cia Basalto de Artes (SP). Programação toda segunda, até dia 12/11, sempre às 20h. Mais informações em facebook.com/segundapreta.
Onde Teatro Espanca! (r. Aarão Reis, 542, Centro)
Ingressos R$ 10 (inteira). Moradores de fora dos limites da Avenida do Contorno pagam meia-entrada.