Se São Paulo é o motor da economia, Salvador, as nossas raízes africanas, e Brasília, a capital político-administrativa, o Rio de Janeiro é o palco para a diversão, nossa “Roma aberta”, como pronunciaria o cineasta italiano Roberto Rossellini se um dia tivesse pisado nesse paraíso tropical.
O Rio de Janeiro é a babilônia entre o mar e as pedras, uma cidade que já se encharcou de água de colônia para “anfitrionar” a Corte portuguesa, foi capital do Brasil por quase dois séculos e hoje é a melhor síntese do país, com seus contrastes entre asfalto e morro, alegria e sofrimento.
Bonde, mar e Cristo já foram as suas principais atrações.
O bonde não circula mais pelas ladeiras sinuosas do bairro de Santa Teresa (com s mesmo) desde o acidente ocorrido há três anos; o mar é ainda um dos motivos pelos quais o mineiro aterrissa nessas paragens; o Cristo é o ícone do Brasil mais famoso do exterior.
Mas o Rio de Janeiro – em que eu caminhei uma vez por ano nesses últimas três décadas – é muito mais do que isso há muito tempo. Para começar nossa conversa, a melhor coisa do Rio é justamente aquilo que o paulista detesta, o baiano não conhece e o mineiro adora de montão: o carioca.
Esse ser magistral, que puxa o “s” na ponta da língua, tem o samba nos pés e uma malandragem cantada em prosa e verso, é até motivo de uma piadinha infame: ao criar o Rio tão espetacular entre as pedras, a floresta e o mar, Cristo escolheu o lugar para colocar seu pedestal. Revoltados com tanta beleza, os anjos protestaram ao Senhor, que logo os tranquilizou: “Esperem, meus filhos queridos, esperem. Ainda não terminei. Vocês não sabem que tipo de gente vou colocar nesta Cidade Maravilhosa”. Daí nasceu o carioca, bolado, maneiro, irado, nas palavras da minha amiga Jessica Antunes.