Um brinquedo jogado no chão, uma peça de roupa fora do lugar, papéis espalhados e, de repente, atravessar a sala parece uma corrida de obstáculos. Manter a casa organizada é um desafio que se torna ainda maior em famílias que têm crianças. Mas se elas “ajudam” a bagunçar, nada mais justo – e saudável para a família – que também sejam chamadas a participar da organização.
E essa tarefa já é possível a partir dos 2 anos, diz a especialista em gestão residencial Letícia Cordeiro. “Os pais precisam, desde cedo e aos poucos, fazer com que as crianças entendam que elas fazem parte da rotina e é papel de todos cuidar da casa”, afirma. Letícia diz que aos 2 anos uma criança já pode juntar seus brinquedos de maneira simples. Os pais podem, por exemplo, usar uma caixa e pedir para que ela coloque todos dentro, já que, nessa idade, ela terá dificuldades para colocar cada um em seu lugar. À medida que cresce, ela pode assumir tarefas mais complexas, até que, aos 11 anos, a garotada já pode exercer qualquer tarefa.
“É assim que funciona a casa da bibliotecária Vanuza Bedeti da Silva, 40. Ela tem dois filhos, Victor, 6, e Matheus, 3, e os dois participam da organização da casa. A mudança na família começou quando ela contratou o serviço de Letícia para deixar tudo em seu lugar. “Agora que cada coisa tem seu endereço, fica mais fácil para encontrar e para voltar para o lugar. Se tem que calçar, eles já sabem onde está o tênis, a meia. Se tiram um brinquedo do lugar, já sabem para onde ele deve voltar”, afirma.
Ela também recorre a métodos divertidos para deixar o momento da organização mais leve e divertido. Uma das estratégias foi desenvolvida com o spinner, brinquedo de rodar que virou febre entre as crianças no primeiro semestre deste ano. “Eu coloco o spinner para rodar e digo que a tarefa tem que estar pronta até ele parar de girar. Eles adoram”, diz.
Letícia afirma que toda a família ganha em um ambiente mais organizado, porque as tarefas ficam mais fáceis, o que facilita o convívio entre pais e filhos.
A especialista diz ainda que é preciso envolver toda a família na tarefa para que todos entendam sua importância e ninguém fique sobrecarregado. “Se alguém deixa a tolha molhada na cama ou o prato sujo sobre a mesa e outra pessoa sempre recolhe e leva para o lugar, a pessoa nunca vai entender que tem que criar o hábito de executar aquela tarefa”, explica Letícia.
Dez minutos
Em um grupo de mães, um relato sobre um método improvisado de organização chamou a atenção da consultora. Uma mãe contou que implantou em casa o que chamou de “Desafio dos Dez Minutos”, que consiste em separar dez minutos por dia para que todos os membros da família se dediquem a recolher objetos espalhados ou arrumar uma gaveta, por exemplo.
“É um método que faz com que todos estejam envolvidos na tarefa. Tem interação, serve de exemplo dos pais para os filhos, insere os conceitos de forma leve para as crianças e pode se tornar quase que uma brincadeira e um momento de colaboração familiar”, avalia.
Ela diz que o mais importante é que cada família encontre uma maneira adequada à sua realidade.
Profissional
Quem precisa de uma ajuda para sair da bagunça pode consultar uma consultora profissional, como Letícia ou como Júnia Dias, que também atua na área. O serviço pode ser cobrado por hora, por dia ou por meio de um pacote ajustado à demanda. Os valores giram em torno de R$ 80 por hora ou R$ 450 por dia.
Júnia conta que o primeiro passo é conhecer os hábitos da família e o espaço disponível para propor uma solução adequada. “Tem que fazer uma limpeza, mexer em tudo mesmo, e ter um olhar crítico para cada item: Você precisa? Tem outro igual? Faz muito tempo que não usa?”, diz. Ela completa que é preciso tirar o que não tiver mais utilidade e descartar rapidamente, seja para doação, venda ou jogar no lixo, para evitar a tentação de “resgatar” um objeto das caixas ou sacolas.
Organize-se
Guardados Escolha lugares fáceis de guardar para cada coisa. Use caixas e organizadores para aproveitar melhor os espaços
Se Não guarde coisas pensando no “se”: “vou usar se emagrecer”, “vou precisar se chegar uma visita”... Tenha um olhar crítico. Se não usa há muito tempo, doe, venda ou jogue fora.
Em grupo Envolva a família no processo.
Objetivo Estabelecer metas e tarefas curtas pode ajudar: hoje vou arrumar uma gaveta, essa semana vou separar brinquedos etc.
Devagar É melhor começar aos poucos do que deixar acumular e não começar nunca
Tarefas das crianças
2 anos Juntar os brinquedos em uma caixa
5 anos - Cuidar de seus pertences; - Levar o prato para a cozinha; - Colocar roupa no cesto
7 anos - Cuidar do seu quarto; - Checar a agenda escolar; - Arrumar a mochila; - Cuidar do seu material.
11 anos Participar das demais tarefas da casa
Economia de tempo (e dinheiro)
Manter a casa devidamente organizada, acredite, ajuda a formar pessoas melhores – e, não bastasse, essa prática acaba gerando uma economia nas despesas que pode fazer toda a diferença no final do mês. A especialista em gestão residencial Letícia Cordeiro lembra que quando a pessoa sabe onde está cada coisa na casa, deixa de comprar itens repetidos. Além disso, é mais fácil controlar a validade dos produtos, evitando, assim, que sejam destinados intactos ao lixo por terem ultrapassado o tempo indicado pelo fabricante para o seu uso, o que é comum quando são esquecidos entulhados em um canto qualquer de armários ou de difícil acesso.
A organização gera também economia de tempo, e não é difícil entender essa lógica. Basta imaginar se, toda vez que for sair de casa, a pessoa tiver que quebrar a cabeça para descobrir onde estão “escondidas” a chave do carro, o controle remoto do portão, os óculos, a carteira, os documentos... Ou ela vai chegar atrasada ou terá que ficar pronta bem antes, para sobrar tempo para procurar tudo. “Se as pessoas fossem mais organizadas, o conforto delas em casa aumentaria e a eficiência na realização das tarefas, também”, pondera Letícia. Detalhes simples podem ajudar a organização diária – como ter um lugar para guardar as chaves, por exemplo.
Nem é tão complicado assim
Se organizar a casa não é tarefa simples, elaborar e seguir um cardápio variado, saudável e gostoso também é algo que atormenta muitas pessoas. Qual mãe (ou pai) nunca se pegou às 11 h sem sequer saber o que vai fazer para o almoço?
Aí, na correria acaba improvisando algo que nem é muito saboroso, nem tem valor nutricional. O segredo para resolver esse problema é o planejamento, diz a gastrônoma especializada em alimentação infantil, Luiza Fiorini.
“Quando eu decido ter uma alimentação saudável isso significa alimentação equilibrada. E isso demanda organização”, afirma. Ela diz que o mais comum é que as pessoas comecem esse planejamento pela lista de compras, mas o ideal é inverter essa rotina. Luiza explica que o primeiro passo é fazer uma vistoria na despensa e na geladeira para aproveitar melhor o que já foi comprado e evitar desperdícios. Se um produto está perto da data de vencimento, tem que entrar no cardápio o mais rápido possível. Se há grande quantidade do mesmo ingrediente, o ideal é procurar uma receita para incluí-lo. Só depois vem a lista de compras, com os ingredientes que faltam.
Luiza diz que o cardápio pode ser semanal ou diário, o que funcionar melhor na rotina da família. No caso dela, a opção é pelo diário e o planejamento é feito na véspera, com base nos alimentos que já tem em casa. “À noite, eu programo o que vou fazer no dia seguinte. Dessa forma, consigo aproveitar a comida que sobrou no almoço e fazer os complementos”, ensina.
Já a nutricionista Paula Malheiros prefere o planejamento semanal. Ela tem dois filhos, Sofia, 8, e Lucca, de 6 meses – que está começando a introdução alimentar.
O cardápio da família é pensado para aproveitar os itens que serão usados na papinha do bebê. “Busco basear a alimentação da família no que vou servir para o meu bebê. Por exemplo, se vou fazer papinhas de batata-doce, cenoura e beterraba na semana, já cozinho para a semana inteira. Para o restante da família, separo parte da batata-doce, pego já cozida, parto fininha e coloco para assar, como se fosse chips. A beterraba, já bato com o feijão. Às vezes, também faço um purê com os legumes”, exemplifica.
Paula frisa que já compra as quantidades necessárias de frutas, verduras e legumes para toda a semana e tira a segunda-feira para fazer a parte mais demorada. Além de cozinhar todos os legumes em um dia e congelar em porções para serem usadas ao longo da semana, ela também deixa outros alimentos pré-preparados. O arroz, por exemplo, deixa torrado ou na primeira água, e vai finalizando o preparo da quantidade necessária para cada dia. Com carnes, ela procura diversas receitas que podem usar um mesmo ingrediente. Carne moída, por exemplo, pode ser usada em almôndegas, molho à bolonhesa, recheio. Para o frango, vale a mesma dica.
Luiza faz coro e afirma que as receitas do cotidiano têm que ser práticas. Tanto Paula quando Luiza dizem que o congelador é um grande aliado no planejamento. Os alimentos devem ser armazenados em porções adequadas para cada refeição da família, prontos ou semi-prontos. É importante identificar o tipo de alimento, a quantidade e a data do congelamento usando etiquetas adesivas.
Autonomia
As crianças podem ser envolvidas na cozinha, tanto no preparo, quando na escolha. Na casa de Paula, a filha mais velha ajuda a amassar pão de queijo e legumes e a fazer misturas. “Só não pode usar faca nem mexer no fogão”, ressalta, prudente.
Ela também diz que criança gosta de autonomia para se alimentar. Por isso, deixar frutas higienizadas e picadas ao alcance delas favorece a alimentação adequada.
Luiza ainda dá uma dica preciosa: “Nunca esconda os ingredientes. O melhor é conversar com a criança e mostrar o que está sendo oferecido, para que ela conheça os sabores e as texturas”.
Ela completa que a hora da refeição deve ser agradável. “O alimento deve ser associado a algo prazeroso”, concorda Paula.
Duas horas bastam
Com apenas duas horas por semana é possível organizar o lanche escolar da criançada. A dica é da gastrônoma especializada em alimentação infantil, Luiza Fiorini. Mas, para dar tudo certo, é preciso ter disciplina. “Você tem que tirar esse tempo exclusivamente para cozinhar. Tem que deixar de lado o celular, as preocupações e se organizar para que alguém fique com seus filhos”, afirma.
Segundo a especialista, um bom planejamento vai manter o congelador cheio constantemente, evitando que os pais passem aperto na hora de decidir uma opção saudável e prática para mandar para a escola. “Você pode fazer bolo em forminhas de cupcake e congelar. Ele conserva por duas semanas. Também pode fazer nuggets caseiros, separar em porções e congelar. Na semana seguinte, você prepara novas receitas. Dessa forma, você vai só fazendo a manutenção do congelador”.