Existem no Brasil ao menos três formas de financiamento de campanhas eleitorais com dinheiro público e elas são todas indecentes, ainda que nem todas sejam ilegais. Essa indecência tem uma razão clara e parte da decisão voluntária do agente político, ou das estruturas partidárias, de usar dinheiro que poderia financiar segurança, educação, saúde e infraestrutura para garantir a manutenção de grupos políticos no poder.
Os fundos
Esta é a forma com aparência de regularidade e que, apenas em 2018, desviou R$ 2 bilhões em recursos que poderiam ser utilizados na construção de estradas, na contratação de policiais, na capacitação de professores ou na aquisição de medicamentos.
Os defensores do mecanismo têm frases de efeito para defender esse assalto: “A democracia tem preço”, ou “todos têm de contribuir para o ambiente democrático”... Esquecem que, na raiz de todas as explicações, recorrem à ideia de democracia, que parte do conceito de que a participação é voluntária, as pessoas escolhem a quem se submeter e quem as governará, mas não consigo ver quem, fora do ambiente político, escolheria patrocinar os partidos. Ou seja, os fundos são na verdade a negação absoluta da democracia, pois desviam dinheiro que esperávamos ser destinado ao bem de todos, sendo utilizado para garantir as boquinhas de alguns.
Vale a pena registrar que o Novo é o único partido político que não utiliza recursos públicos para financiar suas campanhas ou atividades, pois considera imoral sacrificar serviços públicos para promover propaganda política.
O uso da máquina
Há, é verdade, formas ainda menos legítimas de usar o dinheiro público para bancar campanhas eleitorais, como a promovida pelos detentores de cargos públicos para beneficiar a si e aos seus, num processo eleitoral contínuo. Aliás, por aqui, as pessoas tomam posse já em campanha para a próxima eleição. Não é de assustar que realizem tão pouco, afinal, a energia não está em fazer hoje, mas em garantir votos daqui a quatro anos.
Os gabinetes abarrotados de “lideranças” que recebem para “trabalhar nas bases” são a forma mais descarada desse desvio. Gente que é contratada para ficar, por quatro anos, fazendo campanha, recebendo salário dos cofres públicos.
Os apadrinhamentos políticos, garantindo que um indicado vá ocupar um cargo em troca de apoio futuro, são outra face perversa dessa lógica, que muitas vezes leva quem não tem condições a chefiar um serviço público essencial.
E as homenagens, que tanto me aborrecem, não passam longe desse mesmo mecanismo.
A corrupção
Por fim, é claro, temos o problema crônico da corrupção para financiar eleições, crime pelo qual tanto Pimentel como Aécio estão sendo investigados, para não falar nas dezenas de políticos já processados e presos pela Lava Jato.
Por mais que a lei proíba a corrupção, ignore o uso da máquina pública e promova os fundos Eleitoral e Partidário, são todos frutos de uma mesma lógica: a de que eu, você e cada pessoa que trabalha e produz devemos sacrificar uma parte de nossa renda para custear as campanhas de políticos que não necessariamente apoiamos e, aliás, com alguma frequência, desejamos que estivessem presos.
É o último estágio da perversa inversão de valores promovida pelo domínio do ambiente político por parasitas sociais que se alimentam de quem paga impostos: obrigam a vítima a patrocinar a carreira do seu próprio agressor.
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Chega de campanha com dinheiro público
A vítima é obrigada a patrocinar a carreira do seu agressor
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