Nunca na história deste país uma troca de farpas entre um presidente da República e um governador de Estado durou tanto tempo. Ainda que, no final, um lado tenha deixado o outro falando sozinho. Tudo começou na terça-feira (11 de março) quando o presidente Lula (PT) e o governador Romeu Zema (Novo) participaram do anúncio de investimentos da montadora Stellantis em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Discursando antes de Lula, Zema partiu para o ataque dizendo que seu governo é formado por 14 secretarias, número que considera baixo. O chefe do Poder Executivo estadual sempre cita esse número quando quer falar de sua gestão e comparar com a de petistas, ainda que, em Betim, não tenha citado diretamente o governo Lula.

Mas o presidente, que administra o país com 38 ministérios, entendeu e retrucou, dizendo que tem sorte em poder montar uma equipe, que classificou como "extraordinária". E disse que o importante não é discutir se são um ou dez (ministérios), mas a qualidade das pessoas do governo.

Isso aconteceu por volta de 14h. No final da tarde, os dois voltaram a estar lado a lado, não literalmente, já que ambos, nas duas cerimônias, ficaram a cadeiras de distância um do outro. Eles participaram de outra solenidade juntos, desta vez em Ouro Branco, para anúncio de investimentos da produtora de aço Gerdau. Zema repetiu as críticas aos governos petistas. E Lula decidiu trazer à baila o ex-presidente da Jair Bolsonaro (PL), cuja tentativa de reeleição em 2022 foi apoiada pelo governador de Minas.

O presidente disse que poderia olhar na cara de Zema e dizer que nunca um presidente fez tantos investimentos em Minas Gerais. E afirmou querer que no próximo discurso o governador do Estado apresentasse o que Bolsonaro fez para o Estado. Ao final, após troca seca de cumprimentos, Lula e Zema partiram.

E agora entra a fase de um dos lados falando sozinho. Na quarta-feira (12 de março), Zema foi às redes sociais e disse que o governo Lula crescia via anabolizante, ou seja, de forma artificial. O chefe do Poder Executivo estadual declarou ainda que a inflação no país vem crescendo, as taxas de juros sobem e que o governo federal costuma jogar a culpa disso nos governadores.

Lula respondeu com o silêncio. Na quinta-feira (13 de março), Zema voltou à carga. Novamente pelas redes sociais, o governador declarou que o presidente está em "modo avião, desconectado da realidade", e que quer se colocar como o "pai dos pobres". Mais uma vez, como se diz hoje, Zema ficou no vácuo.

A estratégia do governador de Minas não é a ermo. Ao atacar Lula, seja estando lado a lado com o presidente ou pelas redes sociais, Zema tenta manter um nível de polarização com o possível candidato do PT na eleição para o Palácio do Planalto em 2026.

Isso é importante para o governador de Minas, que tenta se colocar como um possível concorrente ao cargo dentro de seu campo ideológico, ainda que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aparente maior capacidade para aglutinar forças para se lançar na disputa.

Zema já vem nesta toada há algum tempo. No início de fevereiro, durante o anúncio do início da duplicação da BR-381, em Belo Oriente, o governador já tinha dado uma cutucada no presidente, que não compareceu à cerimônia. Ao falar da obra, Zema fez questão de citar o metrô de BH, que terá a linha 2 construída com recursos obtidos durante o governo de Jair Bolsonaro.

Vai ao longe, portanto, a época em que o presidente e o governador chegaram a sentar lado a lado e bater papo ao pé da orelha durante discursos de outras autoridades, como ocorreu no anúncio de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Minascentro, em Belo Horizonte, em fevereiro do ano passado. Até bala de menta Lula ofereceu ao governador, que aceitou. Pelo visto, depois do que aconteceu esta semana, o melhor entre os dois é evitar qualquer guloseima que venha de um ou do outro.