A Operação Ross, deflagrada na manhã desta terça-feira, 11, pela Polícia Federal, aponta que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) liderou uma associação criminosa que tinha como finalidade comprar apoio político para sua campanha presidencial nas eleições de 2014. De acordo com a PF, o Grupo J&F, dos irmãos Batista, pagou propina, a pedido de Aécio, de R$ 109,3 milhões ao senador, seu partido e outras legendas, como PTB, DEM e Solidariedade.

A operação, um desdobramento da Operação Patmos, deflagrada pela PF em maio de 2017, investiga ao todo um suposto pagamento direto e indireto de propina de R$ 128 milhões da J&F ao senador Aécio Neves e seu grupo político entre os anos de 2014 e 2017. De acordo com a PF, parte do valor foi repassado ao senador em espécie e outra por meio de depósitos bancários e pagamento de serviços simulados. São investigados os senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Antônio Anastasia (PSDB-MG), e os deputados federais Cristiane Brasil (PTB-RJ), Benito Gama (PTB-BA) e Paulinho da Força (SD-PR).

As investigações mostram que o senador Aécio Neves teria recebido R$ 109,3 milhões para a campanha presidencial da coligação apoiadora do PSDB. O valor teria sido solicitado por Aécio em encontro com o empresário no início de 2014.

A PF aponta que outra parte da propina teria sido entregue a pedido de Aécio por meio de doações oficiais que totalizaram R$ 64,6 milhões a diretórios e candidatos do PSDB. Ao PTB, teria sido destinado R$ 20 milhões, mediante intermediação de Cristiane Brasil, Benedito Gama e Luiz Rondon, tesoureiro do partido. Ao Solidariedade, as doações teriam sido de R$ 15 milhões, por intermédio de Paulinho da Força e Marcelo Lima Cavalcanti.

O dinheiro também teria ido a outros partidos, como DEM, PTN, PSL, PTC, PSC, PSDC, PT do B, PEN, PMN, que, juntos, receberam R$ 10,3 milhões, para comprar apoio político para a campanha presidencial de 2014.

A investigação também aponta o pagamento de R$ 2 milhões para a campanha de Antônio Anastasia ao governo de Minas Gerais e que teria sido viabilizado mediante pedido de Aécio Neves. O senador também teria solicitado no primeiro trimestre de 2015 em novo encontro na residência de Joesley Batista, em São Paulo, R$ 18 milhões para a quitação de despesas eleitorais pendentes da campanha presidencial de 2014. De acordo com as investigações, o senador recebeu R$ 17,3 milhões por meio da compra do prédio do jornal “Hoje Em Dia”, em Belo Horizonte (MG), pertencente a Flávio Jacques Carneiro.

As investigações mostram que entre julho de 2015 e junho de 2017, Aécio teria recebido R$ 1,35 milhão em 17 pagamentos de R$ 54 mil, por meio da Rádio Arco Íris Ltda., sediada em Belo Horizonte. O pagamento teria sido concretizado, de acordo com a PF, por meio de notas fiscais frias, alusivas a serviços fictícios em favor do Grupo J&F, o que caracteriza ciclo de lavagem de dinheiro. A rádio pertence Andrea Neves e Inês Neves, irmã e mãe de Aécio Neves. O senador foi sócio da rádio até meados de 2016.

Em troca da propina, Aécio teria atuado em favor do grupo com o então governador do Estado de Minas Gerais Antônio Anastasia, o secretário da Casa Civil, Danilo de Castro, e o subsecretário de Fazenda, Pedro Meneguetti, para a restituição de créditos fiscais de ICMS que totalizou R$ 24 milhões – sendo R$ 12,6 milhões relacionados à JBS/AS (Couros) e R$ 11,5 milhões à empresa Dagranja (SEARA).

Ao autorizar buscas em endereços do senador, sua irmã e também contra o deputado Paulinho da Força, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, apontou ‘indícios de relação ilícita’ do tucano com executivos do Grupo J&F, entre 2014 e 2017. A Polícia Federal foi às ruas nesta terça, 11, para cumprir 24 mandados de busca e apreensão na Operação Ross.

“O quadro revelado pela autoridade policial, na medida em que ratificado, em parte, pelo órgão acusador, demonstra a existência de indícios de relação ilícita entre o investigado Aécio Neves da Cunha e executivos do Grupo J&F, entre os anos de 2014 a 2017, caracterizada pelo alegado recebimento de quantias em dinheiro, pelo senador ou em seu favor, mediante mecanismos característicos de lavagem de capitais, via empresas e pessoas identificadas na investigação em curso”, escreveu Marco Aurélio.

“Há mais: ficaram demonstrados indicativos da atuação do parlamentar, nessa qualidade, como contrapartida aos benefícios financeiros.”

Anastasia

Em documento de 40 páginas enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou não ver motivos para buscas sobre Anastasia, uma vez que "falta qualquer indício de conhecimento, por parte dele, de que tal contribuição decorresse de contrapartida corruptiva".

Com a palavra, senador Aécio Neves: 

"Fiz questão de vir falar com vocês, em razão dessas operações desencadeadas hoje em Brasília e em outros estados do Brasil, em primeiro lugar para dizer que as solicitações da Polícia Federal foram absolutamente desnecessárias até porque o maior interessado em esclarecer todas essas questões sempre fui eu. E eu sempre estive à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos devidos.

A verdade é que não podemos mais aceitar que delações de criminosos confessos e suas versões se sobreponham aos fatos. E o fato concreto é um só. O que estamos tratando nesse inquérito? De doações à campanha eleitoral. Doações feitas em 2014 de forma legal, registrada na Justiça Eleitoral, aprovadas por esta mesma Justiça Eleitoral, sem absolutamente qualquer contrapartida.

Agora, delatores, e no caso o sr. Joesley Batista, em busca da manutenção de sua imunidade penal, da sua incrível imunidade penal, falseia as informações e transforma algo lícito, legal, com aparência de crime. Não houve nenhuma ilicitude. Ao contrário, procuraram durante todo este tempo algum benefício que eu pudesse ter oferecido ao seu grupo, como governador, como senador da República, não encontraram nada.

Ao contrário, o que encontraram foram delações de um outro membro do grupo, o sr. Ricardo Saud, dizendo que o senador Aécio jamais os ajudou em nada, que o senador Aécio jamais fez qualquer benefício a esse grupo. Esse é o fato.

E se buscarem mais no tempo, quando eu era governador do Estado, o que vão encontrar é uma autuação do Estado a este mesmo grupo feita entre 2008 e 2010. Eles recorreram ao Conselho dos Contribuintes por recolhimento irregular de ICMS e o que ocorreu foi que o Estado enquanto eu governava teve ganho de causa sobre esse grupo.

Chega de tentar transformar a realidade em benefícios para estes delatores. Tenho absoluta confiança na Justiça. A seriedade dessas apurações vai mostrar o que foi feito de forma absolutamente correta, não apenas em relação ao PSDB, mas a outros partidos políticos também, agora envolvidos nessa questão. 

É preciso que a gente fique muito atento para impedir que os interesses desses delatores, criminosos confessos, se sobreponham à verdade. Eu sempre estive à disposição da Justiça. Continuarei pronto para dar todas as explicações. Hoje mesmo os advogados estão em contato com o delegado da Polícia Federal para marcar este depoimento que eu quero que ocorra o mais rapidamente possível para que a verdade prevaleça. Não há absolutamente nenhuma ilicitude.

Esses valores aí colocados são os valores depositados nas contas de campanha eleitoral, tanto do PSDB, quanto dos partidos que nos apoiaram. E, certamente, vão encontrar outros recursos depositados também na conta daqueles partidos que foram nossos adversários na campanha eleitoral. Criminalizar a doação que era legal, repito, é um desserviço à verdade e a Justiça."