Fraude

Andrade Gutierrez simulou autenticidade cartorial

Perícia aponta que timbre no documento usado para supostamente comprovar dívida não tinha assinatura

Por Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
 
normal

A força-tarefa instalada na Prefeitura de Betim, na região metropolitana, para analisar a cobrança de R$ 480 milhões que a empreiteira Andrade Gutierrez (AG) faz contra o município apresentou novas confirmações de falsidade dos documentos apresentados pela empreiteira para supostamente comprovar a dívida.

Dessa vez, o carimbo do cartório usado para autenticação do documento “Ata de reunião relativa ao encerramento e recebimento das obras previstas no edital 004/79”, usado pela construtora para cobrar o município na Justiça, passou a ser questionado como irregular. O local determinado na marca do carimbo de validação do cartório para a assinatura do tabelião é desprovido de rubrica.

Os peritos da Anja Núcleo de Perícias que analisaram o documento suspeito registraram que seria necessário confrontar o carimbo original do cartório do 8º Ofício de Notas de Belo Horizonte, Carlos Murilo Felício dos Santos, de 1991, para conferir sua autenticidade.

Para o procurador geral de Betim, Bruno Cypriano, “embora haja falta de assinatura cartorial, na fase de apuração judicial será requerida perícia de autenticidade do próprio carimbo no documento que foi forjado para inventar uma dívida da prefeitura em favor de AG”.

O sobrinho do falecido ex-prefeito Osvaldo Franco, Levi Boaventura, que é servidor em Betim e que trabalhou ao lado do ex-prefeito por muitos anos, guarda consigo documentos, cartas e dedicatórias do tio. “Essa assinatura nem de longe é a de Osvaldo. Ele era perfeccionista e meticuloso, professor de português, e não aceitaria assinar sobre seu nome ‘w’ no lugar do ‘v’, de ‘Osvaldo’, e quanto menos ainda o ‘s’ no lugar do ‘z’, do sobrenome ‘Rezende’. São coisas inadmissíveis, e a assinatura é falsa”, disse.

Na Prefeitura de Betim, não há mais qualquer dúvida de que o documento usado pela AG foi forjado. “Espanta a ousadia da construtora numa tentativa de um verdadeiro golpe ao erário público por um valor monumental e sem lógica”, disse Cypriano.

O procurador confirma que as ações contra a AG não param, e as denúncias da falsidade documental e de falsificação de assinaturas já foram notificadas à operação Lava Jato com o objetivo de reabrir os termos de delação dos executivos da AG. “Que eles sejam intimados a esclarecer a tentativa de fraude contra Betim, apesar de agora estarem cientes das falsificações usadas para gerar um crédito que nunca existiu”, conclui Cypriano.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!