Articulação

Bancada mineira quer ajuda de Bolsonaro para resolver problema de Furnas

Nível do lago abaixo da cota 762 compromete atividades econômicas dos moradores da região

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 03 de dezembro de 2020 | 13:00
 
 
 
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Deputados federais e senadores de Minas Gerais se movimentam em Brasília para conseguir uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com o objetivo de discutir possíveis soluções para o nível do lago de Furnas, na região Sul do estado, que serve como reservatório para a usina hidrelétrica de mesmo nome.

Atualmente, o nível do lago está 754 metros acima do nível do mar, o que, segundo moradores da região e parlamentares, inviabiliza atividades econômicas importantes para os municípios ao redor, como turismo, piscicultura, produção agrícola e pecuária. O pedido deles é que seja estabelecida uma cota mínima de 762 metros acima do nível do mar, que seria o patamar a partir do qual essas atividades seriam viáveis.

O nível atual é inferior inclusive a 756 metros acima do nível do mar, cota estabelecida inicialmente pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que é quem define o volume de energia produzida pela usina de Furnas. O nível dos reservatórios é fiscalizado pela Agência Nacional de Águas (ANA).

O baixo nível dos reservatórios brasileiros foi apontado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para reativar a bandeira vermelha na conta de luz desde terça-feira (1º). “As represas estão em níveis baixíssimos. Se nada fizermos poderemos ter apagões. O período de chuvas, que deveriam começar em outubro, ainda não veio. Iniciamos também campanha contra o desperdício”, escreveu o presidente Jair Bolsonaro em resposta a um seguidor em suas redes sociais.

O coordenador da bancada mineira no Congresso, o deputado federal Diego Andrade (PSD), afirma que apesar da importância do setor energético, as 34 cidades e mais de 500 mil pessoas que dependem da água do Lago de Furnas precisam ser tratadas com mais respeito pelo ONS e pelo Ministério de Minas e Energia.

“O nosso objetivo é solicitar uma agenda com o presidente para contar com o apoio dele na solução desse problema. A bancada já vem se mobilizando há algum tempo, junto com nossos senadores e deputados e vamos continuar mobilizados porque essa situação do lago abaixo da cota 762 traz grandes prejuízos para toda uma região e toda Minas Gerais”, disse.

O senador Rodrigo Pacheco (DEM) promoveu uma audiência pública no Senado no início do ano, que contou com a presença do ONS, ANA, Aneel, da hidrelétrica de Furnas e do Ministério de Minas e Energia, além de moradores afetados pelo baixo nível da barragem.

De acordo com o senador, houve um consenso na audiência de que era preciso respeitar a cota mínima 762. Ele também já se reuniu com o presidente para discutir uma solução.

“Tratei com o presidente Bolsonaro, meses atrás, que se comprometeu em envidar os esforços junto ao ministro de Minas e Energia para que esse problema seja solucionado. No entanto, o problema no governo federal é que há ministros que acham que mandam mais que o presidente da República. Há boa intenção do presidente, mas há um desmando do Ministério de Minas e Energia”, afirmou o senador, que disse que se encontrará com o presidente novamente para tratar do assunto no dia 8 de dezembro.

A prioridade dos parlamentares é o estabelecimento da cota 762. Uma alternativa discutida é uma compensação financeira aos municípios prejudicados quando o nível do lago baixar desse patamar.

Segundo Rodrigo Pacheco, há a informação de que parte da água do Lago de Furnas está sendo “desviada” para abastecer a hidrovia do rio Tietê-Paraná, em São Paulo, na ausência de uma obra que seria necessária para que a hidrovia fosse navegável com menos água. 

"Ou seja, é Minas dando água para São Paulo em razão da omissão do governo federal de resolver o problema”, disse. O ONS negou, na audiência no Senado, que esse desvio aconteça. O senador cogita pedir uma perícia à Polícia Federal sobre o caso.

PEC aprovada na ALMG

O plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou na quarta-feira (2) uma proposta de emenda à constituição (PEC) que estabelece a cota 762 no Lago de Furnas e o inclui no rol de unidades tombadas para fins de conservação.

O texto foi proposto pelo deputado estadual Professor Cleiton (PSB) e relatado por Cássio Soares (PSD). 

“Mostramos assim para o governo federal que Minas ergue sua voz e defende suas riquezas”, disse Soares, que criticou a falta de uma política para ampliar a matriz energética brasileira, hoje muito dependende de usinas hidrelétricas.

Já o deputado Guilherme da Cunha (Novo) disse que a emenda é inconstitucional já que o Rio Grande, que abastece o reservatório de Furnas, é de competência federal.

Posicionamentos

Em nota, ao ser questionado sobre o suposto desvio de águas, o Ministério de Minas Energia disse que não tem havido tratamento diferenciado entre as bacias hidrográficas pelo setor elétrico em termos de preservação do estoque armazenado e que a “situação hidrológica atual demanda que sejam utilizados todos os recursos energéticos disponíveis para assegurar o atendimento de energia elétrica a todo o país”. 

O ministério disse ainda que reconhece a importância do turismo para a região e que ao longo de 2020 foi estabelecida uma operação para recuperar o nível do reservatório de Furnas, que consistiu na ampliação do uso de usinas termelétricas e na importação de energia de outros países, como Argentina e Uruguai.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que é preciso esperar para avaliar como vai se comportar o período úmido, que vai de dezembro até abril, para definir as estratégias de operação. Segundo o órgão, sazonalmente, o período que vai de maio a novembro tem escassez de chuvas, o que influencia no nível de armazenamento da água que chega aos reservatórios de cada usina. 

Em nota publicada no dia 1º em seu site, o ONS disse que está acompanhando de perto o nível de todos os reservatórios do país para que não falte energia no Brasil. Também foi mencionado a importação de energia do Uruguai e da Argentina e a utilização de usinas termelétricas 

“Nos últimos anos, o país passou por uma escassez hídrica que não permitiu a total recuperação dos níveis dos reservatórios. Em 2020, a afluência no Sudeste/Centro-Oeste para o período seco, que vai de maio a novembro, se configurou como a 3ª pior da série histórica. Para a atual semana operativa, que vai até a próxima sexta-feira, 4/12, as afluências previstas para a região Sudeste/Centro-Oeste são de 37% da média histórica.”, diz o texto.

A Agência Nacional de Águas (ANA) diz aguardar uma nova proposta de operação do reservatório por parte do ONS, para que o nível do reservatório seja recuperado no período chuvoso.

Já a empresa FURNAS, que é subsidiária da Eletrobrás e responsável pela operação e manutenção da hidrelétrica de Furnas, disse que segue operando normalmente conforme despacho do ONS. “A empresa reforça que cumpre estritamente as disposições do contrato de concessão e as determinações dos órgãos de regulação e gestão dos setores elétrico e hídrico nacionais”, diz em nota enviada à reportagem.

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