Avaliação

Novo marco do saneamento não facilita venda da Copasa, dizem líderes da ALMG

De acordo com líderes do Legislativo estadual, que precisa aprovar uma possível desestatização da companhia, as novas regras podem até dificultar a tentativa de venda da estatal

Por Sávio Gabriel
Publicado em 26 de junho de 2020 | 18:15
 
 
 
normal

Embora o governo federal e especialistas argumentem que o novo marco legal do saneamento, aprovado pelo Senado na última quarta-feira, deve facilitar a participação privada na prestação dos serviços de distribuição de água e coleta de esgoto, o tema não deve facilitar as discussões em torno da privatização da Copasa. Líderes da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) veem poucos impactos e até mesmo dificuldades para a venda da estatal com a aprovação do novo texto.

A desestatização da Copasa é uma das bandeiras do governador Romeu Zema (Novo), embora nenhum projeto nesse sentido ainda tenha sido enviado ao Parlamento. No entanto, para que isso ocorra, a ALMG precisa aprovar a medida, decisão que necessita ainda ser chancelada pela população por meio de um referendo. No entanto, o tema sempre encontrou resistência na Casa.

“Creio que dificulta a venda. O marco legal abre a possibilidade maior de concorrência dentro da exploração do setor de saneamento básico. Nessa linha, a Copasa, que tem uma facilidade maior em ser contratada pelos municípios via dispensa de licitação, ficaria com uma dificuldade maior quanto à concorrência”, explicou Cássio Soares (PSD), líder do bloco independente Liberdade e Progresso.

O parlamentar se refere ao chamado contrato de programa, firmado entre municípios e as concessionárias, para a prestação do serviço de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Atualmente, as prefeituras podem realizar o processo sem licitação, mas o novo marco prevê que será necessária a abertura de um processo licitatório, com participação de empresas públicas e privadas.

Líder do maior bloco da ALMG, o Minas Tem História, Sávio Souza Cruz (MDB) concorda com a avaliação de Cássio Soares e acrescenta ainda que além da dificuldade para novas concessões, a Copasa também não poderá transferir as já existentes para o agente privado. “As concessões que a estatal já tem no atual modelo não poderão se transferidas. Ou seja, o principal ativo não poderá ser assumido para o agente privado que venha a adquirir a companhia”. Com isso, segundo ele, a estatal mineira, que atende 635 dos 853 municípios do Estado, torna-se praticamente impossível de ser vendida.

Já o líder oposicionista, André Quintão (PT), diz que o novo marco regulatório pode até ajudar no discurso de quem defende a venda da Copasa, mas que a participação da iniciativa privada no saneamento não é benéfica, especialmente para a população mais vulnerável. “A lógica do mercado no sistema capitalista é o lucro. E muitas vezes o abastecimento de água e a coleta de esgoto são efetivadas através do aporte (de recursos) públicos, do subsídio. Se você coloca a lógica de mercado na prestação de serviço público, nas regiões onde for mais caro (para investir), essa questão ficará postergada. Com isso, a venda da Copasa fica mais difícil”.

Aliada de Romeu Zema, a deputada Laura Serrano (Novo), por sua vez, comemorou a aprovação do novo marco regulatório e disse que a medida não atrapalha os planos de venda da Copasa. “Obviamente que isso vai ser apreciado e avaliado pela Assembleia, mas o marco regulatório traz, na verdade, uma maior segurança jurídica no setor e na participação da iniciativa privada”.

Por meio de nota, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (Sede) avaliou a aprovação das novas regras de forma positiva. Diferentemente da avaliação dos líderes da ALMG, a pasta informou que os contratos de prestação de água e esgoto junto aos municípios permanecem válidos mesmo após a desestatização.

“Antes do novo marco, caso uma empresa pública fosse desestatizada, todos os contratos nessa modalidade seriam extintos. O novo marco altera essa regra e permite que empresas públicas sejam desestatizadas sem implicar na extinção dos contratos, o que melhora o arcabouço regulatório e jurídico para um eventual processo de desestatização”, disse a Sede, informando que a ALMG “é soberana para decidir sobre esse tipo de processo”.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!