Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), deputado federal; Flávio Bolsonaro (PSC), deputado estadual no Rio; e Carlos Bolsonaro, vereador carioca, não admitem que a família criou uma espécie de oligarquia em torno do pai, Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Fato é que o patriarca é o responsável pelo sucesso eleitoral da prole e figura como um dos líderes das pesquisas para presidente em 2018.
Deputado federal desde 1991, Jair Messias Bolsonaro tem-se tornado cada vez mais popular devido à coleção de polêmicas que lhe rendem legiões de fãs e inimigos. Hoje, no entanto, ele tem adotado um estilo mais light, já focando a corrida ao Planalto. Em conversa por telefone com O TEMPO, o ex-capitão do Exército preferiu evitar os “temas batidos” e revelou o tom do que será “Bolsonaro 2018”. “Na escola, havia o quadro de honra, em que os melhores alunos tinham fotos e nomes pendurados. Eu sempre estava lá, em primeiro ou segundo. Hoje, seria considerado bullying”, relembra, aos risos, a infância em Eldorado Paulista (SP).
Ouça os 10 pontos mais importantes da entrevista com Bolsonaro
De família de classe média e predominantemente católica, Bolsonaro ingressou nas Forças Armadas em 1972. “Naquele tempo, o respeito à disciplina existia no meio civil. Quando a professora entrava na sala, você se levantava, chamava de senhora, não de tia, tinha educação moral e cívica, cantava o hino. E a base do exército é a disciplina”, justifica.
Ultranacionalista e declarado admirador da ditadura militar, Bolsonaro, politicamente, tem atuação discreta no Congresso. Em 26 anos como deputado, conseguiu apenas que um projeto de sua autoria fosse aprovado em plenário. “Por ser de direita, eu sou boicotado”, avalia. O texto aprovado em 2015 prevê a impressão de “recibos” de voto após o uso da urna eletrônica: “Se não usarmos isso em 2018, pode ter certeza de que as urnas serão fraudadas e vencerá um candidato do PT ou do PSDB”.
Ele afirma que será candidato à Presidência e garante não ter medo de ficar sem mandato pela primeira vez desde 1991, caso perca a eleição: “O homem que não tem ambição tem que comprar um lote no cemitério. Eu jurei, quando servi o Exército, dar minha vida pela pátria. O que é dar o mandato de deputado pela pátria? Nada”.
Convertido ao protestantismo, Bolsonaro é um dos deputados mais protegidos e saudados pela bancada evangélica. Em 2013, o pastor Silas Malafaia, polêmico na mesma medida, celebrou o casamento entre o deputado e sua terceira esposa, Michelle. Naquele ano, o parlamentar foi acusado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) de agressão, com um soco na barriga, durante visita da Comissão da Verdade ao prédio do antigo DOI-Codi, no Rio.
Questionado se já se arrependeu de algum ato, dispara: “De nada. Olha só, você se lembra da última vez que fez xixi na cama? Você se arrepende de ter feito? Vamos parar com essa historinha babaca de se arrepender. O que está feito está feito”.
Com a tendência mundial de crescimento da direita populista, Bolsonaro tem surfado em discursos semelhantes aos adotados lá fora. Ele mira críticas, por exemplo, ao risco da imigração em massa para o Brasil. “A Europa vai encher navios com refugiados e mandar para o Brasil. Não temos como acolher essa quantidade de gente, ainda mais que o brasileiro, como diz no projeto, terá que aceitar os costumes de quem estiver vindo pra cá”, problematiza.
Segundo Bolsonaro, o tom agressivo no Congresso é necessário para defender seus pontos de vista: “Eu entro com o pé no peito de algumas pessoas na Câmara por necessidade. Se eu for dar uma de bonzinho: “ai, com licença, me desculpa, este material não pode ser assim’, não dá, tem que ir pra porrada, cara”.
Desde 2014, o deputado é réu no Supremo por ter dito, naquele ano, que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque “ela não merecia”. Ele se defende: “Tem gente ali que defende estuprador e depois me chama de estuprador. Aí eu respondo falando que não estupraria por ela ser uma porcaria, e pronto: estou estimulando o estupro no Brasil. Tenha santa paciência”.
Popular
Na rede. No Brasil, político algum é mais popular na internet que Jair Bolsonaro. Só no Facebook, o deputado tem mais de 4 milhões de curtidas – superior às marcas dos ex-presidentes Lula e Dilma.
2018
Estilo “linha dura” é marketing eleitoral
Na pesquisa de intenções de voto para presidente da República mais recente, feita pelo DataPoder360 e divulgada na última quinta-feira, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) aparece na segunda posição, atrás apenas do ex-presidente Lula (PT) e tecnicamente empatado com o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).
Para o professor de ciência política da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paulo Roberto Figueira Leal, o contexto de crise de representatividade na política impulsiona figuras radicais como Bolsonaro: “A insatisfação com casos de corrupção e a crise econômica gera um sentimento antipolítico, antisistema. A população sai da moderação e escolhe narrativas que não se encaixam na política tradicional”.
Ainda segundo Leal, é curioso perceber que Bolsonaro, mesmo estando na política há quase 30 anos, ainda é visto como alguém de fora desse nicho. “Ele se vendeu como um outsider, como um linha-dura que fala a verdade. É uma narrativa fantasiosa que até lembra a do ex-presidente Fernando Collor, que já havia sido prefeito, governador e mesmo assim era visto como alguém de fora da classe política”, diz.
Na avaliação do próprio Jair Bolsonaro, sua popularidade se dá por suas qualidades “pouco comuns” na política: “O que atrai é a minha sinceridade, minha coerência e coragem. Eu não sou Papai Noel durante as eleições e depois sumo. Não tenho dupla face, não sou uma metamorfose ambulante. O Brasil precisa de valores, de moral. Precisamos guinar à direita, e não ficar presos a ideologias de esquerda que estão empobrecendo a todos”. (LR)
Exército
Adversário de Lula já foi “sindicalista”
Um sindicalista que lutava por melhores condições de trabalho e que acabou entrando para a política, onde ganhou projeção. A história parece com a do ex-presidente Lula, mas é a trajetória do ferrenho adversário do petista: Jair Bolsonaro. O deputado chegou ser preso em 1986 por publicar um manifesto por melhores condições salariais e por atribuir o desligamento de 150 soldados às más condições do Exército. Um ano depois, ele foi flagrado em uma operação clandestina para explodir bombas em banheiros da Vila Militar no Rio para protestar contra baixos salários e contra a prisão de um capitão.
Bolsonaro foi inocentado pelo Superior Tribunal Militar em 1988 por falta de provas. Pouco tempo depois, a Polícia Federal confirmou que a caligrafia dos folhetos incitando a ação era do militar. A atuação “sindical” levou naturalmente Bolsonaro à política, e ele acabou elegendo-se vereador no Rio em 1989. (LR)