Investigação

CPI do MEC pode ser enterrada pelo regimento se ficar para depois das eleições

Regra que proíbe funcionamento de CPI em duas legislaturas pode inviabilizar comissão solicitada por oposição para funcionar por 90 dias

Por Lucyenne Landim e Levy Guimarães
Publicado em 05 de julho de 2022 | 13:19
 
 
 
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O movimento liderado principalmente por senadores governistas para deixar para depois do período eleitoral a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a existência de um gabinete paralelo no Ministério da Educação pode inviabilizar a investigação legislativa. Há uma ressalva no regimento interno do Senado de que "em qualquer hipótese o prazo da CPI não poderá ultrapassar o período da legislatura em que for criada".

No momento em que os parlamentares tomam posse, a cada quatro anos, é criada uma nova legislatura. A próxima será iniciada em fevereiro de 2023. O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento da CPI do MEC, pediu que a comissão funcione por 90 dias. O prazo é insuficiente para que se tenha uma CPI depois das eleições, que tem o segundo turno marcado para 30 de outubro.

Com o recesso obrigatório do Congresso Nacional e a suspensão das atividades entre 23 de dezembro e 1º de fevereiro, a CPI não teria os três meses de funcionamento solicitados no requerimento e, na prática, não pode, de nenhuma maneira, prosseguir a investigação no próximo ano com os novos senadores que tomarem posse.

De acordo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), "a ampla maioria dos líderes entende que a instalação de todas elas deve acontecer após o período eleitoral, permitindo-se a participação de todos os senadores e evitando-se a contaminação das investigações pelo processo eleitoral".

Há a expectativa de que a leitura do requerimento de criação da CPI - fase necessária depois do protocolo do requerimento - seja feita na sessão convocada para esta quarta-feira (6). A leitura, no entanto, não significa que a abertura dos trabalhos seja feita em seguida à indicação dos integrantes pelos líderes partidários. Como exemplo disso, tem a CPI das ONGs, que foi apresentada e teve o requerimento lido em 2019, mas nunca foi iniciada.

Questionado, Pacheco contradisse a ressalva regimental ao afirmar que o Senado tem instrumentos para “dar continuidade” à CPI no próximo ano.

“Depende se as eleições tiverem segundo turno, se não terão segundo turno. Eu não considero que fiquem inviabilizadas [as CPIs], haverá o tempo necessário para poder fazer um relatório. E obviamente, chegando ao final do ano, uma CPI em curso, havendo a necessidade de se dar continuidade à investigação que esteja sendo bem-sucedida, o Senado tem os instrumentos próprios para, no início da próxima legislatura, também dar continuidade às Comissões Parlamentares de Inquérito”, disse Pacheco.

Randolfe afirmou que pode acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para que Pacheco seja obrigado a abrir a CPI do MEC, caso o presidente do Senado não dê prosseguimento no caso. "Como já assinalei, CPI é direito constitucional da minoria parlamentar. Não existe a possibilidade de não ser instalada. Não pode ser obstruída", disse.

"Se o requerimento da CPI do MEC não for lido nós iremos ao STF. Se os líderes partidários não fizerem indicação, nós iremos ao STF para que a Constituição Federal seja cumprida", acrescentou.

De acordo com denúncia feita pelo Estado de S. Paulo, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura atuavam como lobistas e pediam propina a prefeitos para a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O caso teria acontecido na gestão do ex-ministro Milton Ribeiro, que facilitava o acesso dos evangélicos a agendas da pasta, e foi confirmado por prefeitos.

Em outra reportagem da Folha de S. Paulo, foi divulgado um áudio em que Milton Ribeiro diz que o pedido de prioridade às ações dos pastores teria sido feito pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Dessa forma, senadores de oposição já defendem a inclusão do mandatário nas apurações da CPI do MEC.

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