Alvo de uma denúncia no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados por depor contra o governo de Jair Bolsonaro na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) diz esperar que parlamentares não levem adiante uma punição que pode acabar em cassação.
Em entrevista ao O TEMPO, Miranda disse que a denúncia feita pelo PTB é revanchismo político. Em junho, o parlamentar prestou depoimento ao lado do irmão, o servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, sobre suposto superfaturamento em contrato do governo federal com a Bharat Biotech para produção da vacina Covaxin, contra a Covid-19.
“Quando você tem uma denúncia no Conselho de Ética feita por um presidiário. Foi preso lá atrás, é um mensaleiro, é um cara corrupto, cara que não tem moral, não tem índole para denunciar alguém que está lutando para combater a corrupção. É um revanchismo que não vai prosperar, porque parlamentares não compactuam com isso. Por isso você não vê prosperar no Conselho de Ética”, disse o deputado em referência ao ex-parlamentar Roberto Jefferson, presidente do PTB licenciado, preso após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Jefferson é investigado no inquérito de milícias digitais.
O PTB alega na denúncia que a meta de Miranda era manchar o presidente Bolsonaro. O governo, diz Miranda, tenta influenciar junto a deputados para avançar o pedido contra ele no Conselho de Ética. “O governo tenta influenciar, mas não tem força para convencer parlamentar honesto a apoiar algo tão desonesto como tentaram fazer contra mim”, disse.
Miranda afirma ainda que apoiadores do presidente Bolsonaro tentaram calá-lo. O receio, segundo ele, era um depoimento na Polícia Federal ou Ministério Público.
“Cometeram erro gravíssimo (ao me denunciar no Conselho de Ética). Demostra mais uma vez tentativa de me calar. Qual era o medo deles? Na CPI, na opinião desses mais radicais, é (CPI) midiática. Eles não queriam que eu desse depoimento na Polícia Federal, Ministério Público. Aí sim, porque tem o encaminhando legal e poderia, de fato, atingir os envolvidos”, afirmou.
Toda pressão citada por Miranda tem um motivo, segundo o parlamentar. Diversos “palacianos” estão envolvidos no crime da Covaxin, aponta o deputado.
“O que percebi foi que palacianos estão envolvidos no crime da Covaxin, porque teve defesa enfática pela empresa, ao negócio. Eles não defenderam o presidente. Se observar as postagens à época era defendendo a empresa, o negócio todo ilícito. Com vários crimes envolvendo desde a contratação, a forma que foi feita, documentos falsos apresentados, todas as tentativas de recebimento antecipado utilizando-se da pressão, documento corrigido que é falso, porque na verdade não foi utilizado na Anvisa”, disse.
Miranda diz esperar cautela de Renan Calheiros, relator da CPI da Covid
Na reta final, o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), vai apontar crimes ao presidente da República, Jair Bolsonaro.
Miranda disse que Calheiros precisa ter cautela para o relatório final da CPI não perder a credibilidade, caso ocorra imputação de crimes inexistentes.
“Não é parlamentar inexperiente, pelo contrário, tem larga experiência. Mas tem que tomar todo cuidado para que não se permita que a vaidade política, o revanchismo por conta de todos os ataques que sei que ele sofre, que ele não cometa um erro. Tem que ter cautela. Não estou dizendo que ele não está tendo. Mas essa cautela vai ser primordial para o relatório ter credibilidade ou não. Imputação de crime não existente vai fazer com que todo relatório caia por terra”, afirmou.
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