O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, disse que o Senado tem “um certo ciúme” em relação à Câmara dos Deputados.
Em uma live do jornal Valor Econômico, ele foi questionado sobre a demora da Comissão de Constituição e Justiça da Casa para sabatinar o ex-ministro André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a vaga de Marco Aurélio Mello no STF.
“A gente percebe que há aqui algum tipo de querela entre Câmara e Senado, um certo ciúme do Senado em relação à Câmara. Há um problema de coordenação política recente, o Senado rejeitou uma Medida Provisória que parecia extremamente importante sobre a questão trabalhista, aparentemente para passar algum tipo de recado ao governo”, diz Gilmar.
A dificuldade para emplacar o nome de André Mendonça tem sido apenas um dos problemas que os governistas têm enfrentado no Senado.
Tensão política
Na visão do ministro Gilmar Mendes, o perfil de André Mendonça não é o principal motivo para o presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (DEM-AP), estar segurando a sabatina. Ex-ministro da Justiça e da Advocacia-Geral da União no governo Bolsonaro, o indicado segue peregrinando por gabinetes e atuando junto a senadores favoráveis à ida dele ao STF e, mais recentemente, a lideranças evangélicas.
Para Gilmar Mendes, as manifestações de 7 de setembro seguem reverberando:
“Eu acho que aqui nós temos um problema político inusitado. E não vislumbro que o problema esteja exclusivamente associado ao candidato André Mendonça, que tem bom currículo e se comporta de maneira muito digna nas questões constitucionais. Me parece que isso vem da tensão política que se criou até o 7 de setembro. O ataque ao STF acabou por alimentar esse retardo.”
O ministro complementa afirmando que mesmo após falas mais moderadas de Jair Bolsonaro, senadores temem o tom mais radical adotado em semanas anteriores: “Já ouvi senadores dizendo que se o presidente Jair Bolsonaro quer fechar o STF, porque lhe dar mais um membro? Então a mim me parece que é mais uma crise político-institucional refletida nessa resistência do Senado.”