Rádio Super 91,7 FM

Coronavírus em BH: em entrevista exclusiva, Kalil pede manutenção de quarentena

Prefeito, que comemora aniversário nesta quarta (25), fala sobre novas medidas contra a pandemia de Covid-19

Por Lucas Morais e Ricardo Sapia
Publicado em 25 de março de 2020 | 18:20
 
 
 
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O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), anunciou em entrevista exclusiva ao apresentador Ricardo Sapia, da rádio Super 91,7 FM, novas medidas de enfrentamento ao coronavírus em BH e ainda comentou o fechamento dos comércios, bares e serviços na capital.

Conforme o chefe do Executivo municipal, a prefeitura pretende fazer a higienização das ruas com cloro, através de caminhões-pipa, e que não há recomendação para que clínicas médicas se mantenham fechadas na capital. Confira abaixo esses e outros assuntos que foram tratados na entrevista:

O senhor completa hoje 61 anos. Vai comemorar o aniversário?

Tenho que comemorar sim, porque eu tenho três filhos sadios, nora, uma neta e outros três vindo aí nas barrigas. Então, eu tenho que comemorar sim, temos que espiritualizar mais, não é a presença física que vai me fazer gostar mais ou menos dos filhos, das minhas noras e das minhas netas. Estou com a minha mulher em isolamento, porque eu tenho inteligência mediana. Vamos esperar que Deus ilumine esse país para que no ano que vem eu possa ter um aniversário rodeado pela família.

Qual a sua opinião sobre o pronunciamento do presidente Bolsonaro?

Fiquei profundamente decepcionado, porque eu sou um cara que não tenho esse negócio de Bolsonaro, Lula, ideologia de direita e esquerda. Eu acho que a ideologia é uma coisa idiota, do século passado. Precisamos é de ajudar os outros que precisam, mas ontem (terça) tornou o caos total. Porque nós aqui em Belo Horizonte fomos os primeiros a decretar (o fechamento de bares e comércios), porque é uma medida duramente impopular e ninguém teve a coragem de adotar antes. A prefeitura foi pioneira, ela assumiu. Eu disse na época que governar não era para agradar, era fazer o que era o certo. Então, eu quero deixar muito claro para a população de Belo Horizonte que fomos a primeira cidade que fechou, é um dado. Até eu fiquei surpreso (com o pronunciamento). Todo mundo assiste televisão, todo mundo vê jornal, escuta a rádio, e sabe o que está acontecendo na Europa. Acho que o presidente não podia ter feito, ter desconstruído isso (as medidas de restrição), e foi uma construção muito dura. É importante, eu disse hoje na minha rede social, que ele dê o nome do médico ou cientista, ou de quem orientou ele a fazer isso, afinal, foi uma plataforma política dele que iria colocar técnicos nos lugares para tocar o Brasil. Na hora que o técnico deu determinações corretas, ele foi em rede nacional e desmoralizou o ministro (da Saúde, Luiz Henrique Mandetta), porque não tem outra palavra. Desmoralizou o Ministério da Saúde, que é uma pasta tão importante, e o SUS, que tem um sistema de saúde que sem dúvida nenhuma é o melhor do mundo.

Muitas pessoas, principalmente do mercado informal, reclamam de estarem impossibilitadas de trabalhar. O senhor é favorável de um isolamento apenas das pessoas do grupo de risco, como sugeriu Bolsonaro?

Em Belo Horizonte vai continuar tudo fechado. O prefeito que fez isso (diminuir as restrições), eu lamento profundamente. Estou aqui e vou tentar proteger as vidas. Agora, cabe ao governo federal o que o governo americano fez, que é o maior plano da sua história. Liberou US$ 2 trilhões, eu nunca nem tinha ouvido falar nesse número, para proteger essa população. Ao contrário de mandar todo mundo ir para o abismo, devia era apresentar um plano de socorro. Eu estou com problema de ônibus rodando vazio, os aplicativos estão vazios, quem vende cachorro-quente, pipoca, picolé. São problemas que o governo federal devia estar tomando providências e não se vê nenhuma. Aquela viagem, que eles vieram aqui para derramar R$ 1 bilhão nas chuvas (nas enchentes que afetaram o Estado em janeiro), nós só recebemos R$ 7 milhões até agora. É nada. O governo federal tem que copiar a saúde e a economia do mundo lá fora, que sabe fazer. É muito duro, tem reclamação, agora nós temos motorista de táxi de 60 anos, de aplicativo, motorista de ônibus, a maioria do suplementar chega a essa idade, então como é que faz? Se eu parar o ônibus, o suplementar, o aplicativo, o táxi, como que o funcionário vai chegar no posto de saúde, no hospital ou na UPA? É complexo, é difícil gente.

Tem muitas clínicas médicas fechadas na capital. Isso foi uma determinação da prefeitura?

Elas estão fechadas por vontade própria. Qualquer laboratório, sendo público ou privado, hospital, clínica, estão fechados porque querem ficar fechados. Não há determinação, de forma nenhuma. Ele está reclamando, mas não abriu. Pode ter a consulta e atender, qual o problema? Quem está proibindo de fazer isso? O meu filho está agora dentro de hospital, trabalhando. Ele é médico, não posso segurar em casa. Os outros que são advogados não, estão em casa. Agora está na rua trabalhando, então não estou entendendo porque o médico não está lá, e de mais a mais é um único que tem garantia, ninguém vai parar de consultar o médico. Vai continuar tendo gente com pressão alta, diabetes, problema no coração, AVC, com tudo isso. Temos que separar uma coisa da outra, ele não está trabalhando porque ele não quer trabalhar, os funcionários deles não querem, não quer enfrentar a pandemia, isso é outra coisa. Tanto que meu filho que tem um emprego, precisa de trabalhar, e está lá. Não tem hospital fechado, os particulares estão todos abertos.

Algumas cidades do interior já fazem uma limpeza e desinfecção nas ruas e vias com os caminhões-pipa. Essa ação será implantada em Belo Horizonte?

Estamos providenciando isso também, é muito inteligente, fazer o caminhão-pipa com cloro ir nos pontos de ônibus. Mas é uma operação, não é de um dia para outro. Vai ajustando, arrumando as coisas. Temos condição de fazer isso, já foi colocado e está providenciando. É uma ótima ideia. Temos que ir copiando, cada um copia um para ver o que está dando certo.

Muitas prefeituras mineiras adotaram barreiras sanitárias para fechar as entradas. Pretende tomar uma medida assim em Belo Horizonte?

A princípio não estou pensando em nada disso, até porque Belo Horizonte é o coração do Estado. Não podemos criar uma situação complicada, tem muito filho vindo para cá, gente que quer visitar a mãe, isso é complicado. O importante é que quem chegar, vá para casa. Temos que ir para casa, temos que proteger a Guarda Municipal, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros, os enfermeiros, atendentes, profissionais do Exército que estão conveniados conosco na rua, os jornalistas que estão nos municiando de notícias certas e corajosas. Nós sabemos que é ruim, agora são medidas duras que o Brasil nunca enfrentou. Nós estamos em guerra. Hoje morreram 1.500 pessoas na Europa, isso é numero de guerra.

O governo federal anunciou a distribuição de kits com testes rápidos para o coronavírus. Esse material vai chegar na capital?

Vai. É papel do governo federal. Vão comprar 24 milhões (de kits), mas hoje esses exames são feitos apenas em casos graves, que estão indo para internação. Você passou mal, está com febre, fica em casa até sentir falta de ar. Então, é isso que é a recomendação científica, até para não ir lá buscar doença. Quem vai em posto de saúde, hospital agora para ser internado, vai lá buscar doença.

Como vai funcionar a distribuição de cestas básicas para o aluno da rede municipal?

É uma cesta básica por criança, se tiver duas crianças são duas. Isso já foi muito bem explicado pela Maíra Colares (secretária Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania). É aquela história, eu sou prefeito, eu sei, eu autorizei a despesa de quase R$ 10 milhões por mês e vai ser operacionalizado naquelas grandes redes que tem nas periferias para que as pessoas não tenham que transitar muito. Me parece que essa operação começa a entrar em vigor amanhã ou depois. A pessoa recebe, estará cadastrada no mercado, a pessoa responsável pela matrícula vai no supermercado, passa no caixa e a prefeitura paga diretamente ao supermercado.

O setor hoteleiro está sentido muito os efeitos da crise provocada pelo coronavírus e pede adiamento do pagamento de IPTU. Essa reivindicação será atendida?

Olha, nós não estamos pensando em nada. O setor hoteleiro tem uma dívida com a prefeitura de R$ 400 milhões. Abriu hotel a torto e a direita, aquela estupidez que foi feita (na Copa do Mundo). Então, os hotéis, estou tratando separado, tiveram uma alta no Carnaval, e agora estão numa baixa. O hotel não tem mais importância que o cara que vende cachorro-quente, então nós temos que esperar para ver. Sobre imposto, esquece, eu já dei R$ 144 milhões de adiamento de imposto para quem eu obriguei a fechar, que é o certo. Se você obrigou a fechar, tem a obrigação de pelo menos aliviar para esse pessoal. Agora, se o hotel fechou as portas, é lamentável.

A campanha de vacinação contra a gripe começou nesta semana. Já faltam vacinas nos postos de saúde?

Estou mandando aos poucos, porque com esse adiantamento, pelo que eu ouvi do Ministério da Saúde, me parece que quem fabrica essa vacina não deu conta de fabricar. E não tem a menor pressa de tomar também. Isso (a campanha) vai até quase o fim de abril para idosos e profissionais da saúde. Eu mesmo, que sou um grupo de risco, vou vacinar lá para terça, quarta-feira da semana que vem, sem pressa. Muito pior do que atrasar vacina é aglomerar em posto de saúde para buscar doença. E nós temos esse convênio com a Drogaria Araújo. São 125 pontos extras de vacinação, que foi o que nos colocaram, e mais importante, eles vão aplicar a vacina, o que não sobrecarrega, não tira meu pessoal, eu só entrego a vacina e eles mesmos aplicam. É uma grande vantagem, porque não tira ninguém, desmobiliza ninguém.

Há algum projeto que pretende enviar à Câmara para afrouxar o cumprimento das metas fiscais da cidade?

Não, ainda não sabemos qual vai ser o tamanho do impacto. A calamidade já foi decretada na cidade há muito tempo, agora o Estado também está em calamidade. Temos que ver o tamanho do impacto disso na prefeitura. Vai ser muito duro também para a prefeitura, e temos que ter o pavor da doença e calma também nessa hora sobre o tamanho do que vai acontecer.

O senhor defende o adiamento das eleições municipais, previstas para outubro deste ano?

Eu não tenho posição sobre isso, me nego a falar nesse assunto. Inclusive eu respondi ao portal O Tempo, respeitosamente, que pelo amor de Deus, acho que ninguém está entendendo nada. Temos visto as cenas nos CTIs da Itália. Se tiver eleição, terá, quem vai definir isso é o Congresso. Se tiver, terá, se não tiver, não terá, não cabe a minha opinião até porque, como interessado, eu não posso opinar.

Na última semana houve um atrito entre o senhor e o governador Romeu Zema. Esse problema continua?

Não. Ele não cumpriu na época que é justamente o atraso em soltar decreto da calamidade e o fechamento do estado inteiro. A discussão foi só essa, depois ele fez e está superado. O governador, se precisar da prefeitura, estou a disposição, se eu precisar dele, também vou recorrer. É um assunto que está sepultado, não é hora disso. Ele foi mal assessorado, porque isso acontece. Ele não teve palavra no episódio comigo.

Como está a preparação da prefeitura para o possível aumento no número de casos do coronavírus?

Olha, preparamos três centros, uma na Centro-Sul, outro no Barreiro e em Venda Nova, exclusivamente para coronavírus e problema respiratório. Ocupamos o antigo hospital Hilton Rocha, que foi todo reformado. Temos quase 70 CTIs e 130 enfermarias lá. Fechamos o Odilon só para isso e um andar do hospital do Barreiro. Estamos hoje estudando os hospitais de campanha. Temos a condição que toda a Itália não tem, que é colocar simultaneamente sete mil pessoas em respiradores.

Sobre futebol, e a prisão do Ronaldinho Gaúcho, de quem o senhor é muito próximo?

Eu fico muito triste, gosto muito do Ronaldinho, todo mundo sabe. Me deu muita alegria, é uma trapalhada que na certa enfiaram o menino, porque ele foi levado para aquilo e acho que em dez a 15 dias ele vai sair, e em momento tão difícil como esse no país. O Ronaldinho se meteu numa encrenca, eu não tenho nem ideia do que é aquilo, não entendi, porque passar para o Paraguai não precisa nem de documento. Se você passar pela Ponte da Amizade, não precisa de mostrar nem a carteira de identidade, então não entendi aquilo. Fiquei muito triste, não só como o pai, que ele me chama assim, mas eu sei que ele vai passar por cima disso.

Hoje o Atlético completa 112 anos. Qual seu recado para os atleticanos?

Pois é, eu fiz até um post hoje na internet. Fiz questão de ir até meus quadros, minhas lembranças. O Atlético faz parte da minha vida e, para completar toda a tragédia dessa pandemia no Brasil, ainda perdemos o nosso Atlético no domingo. Bom ou ruim, bem ou mal, o nosso programa de domingo é assistir ao Atlético e ligar para os filhos para fazer comentários mais absurdos, cornetas. Eu quero dizer a todos os atleticanos que estamos de parabéns e eu tenho a honra e o privilégio de fazer o meu aniversário no mesmo dia de uma das minhas grandes paixões, que é o Atlético.

Qual seu recado para a população?

O único apelo que eu faço é que fiquem em casa. De hoje para ontem foram quatro mil casos suspeitos a mais em Belo Horizonte, então não é brincadeira. A Índia colocou um bilhão de pessoas presas em casas, a Itália atrasou, a Espanha atrasou, e o Rio, não é uma decisão política, não é ordem, isso é decisão e sem a população ninguém vai dar conta.

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