O ex-presidente da Cemig, Cledorvino Belini, disse nesta segunda-feira (18) que o vice-presidente do Novo em Minas Gerais, Evandro Veiga Negrão de Lima Jr., lhe encaminhou uma fatura no valor de R$ 170 mil para ser paga à Exec, empresa de recrutamento que foi a responsável pelo processo de seleção que resultou na escolha de Reynaldo Passanezi Filho para a presidência da estatal.
Em depoimento à CPI da Cemig na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Belini disse que não autorizou o pagamento porque não tinha comprovação de que o serviço foi prestado.
“O Evandro me mandou aquele papel. Era uma fatura, se não me engano de R$ 170 mil do serviço [da Exec]. Como eu não conhecia, não tinha sido indicado pelo Conselho, eu não podia fazer nada com aquele papel”, afirmou o ex-presidente da Cemig.
“Eu encaminhei para a área de Pessoal para eles apresentarem à nova diretoria o seu processo [de contratação]. Não podia pagar enquanto não tivesse materializado a indicação da pessoa. Não aceitei porque eu não tinha recebido o serviço”, afirmou Belini.
Durante o depoimento, ele disse que, até onde sabe, foram o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Cássio Rocha de Azevedo, que morreu em junho deste ano devido a um câncer, e Evandro Negrão que cuidaram do processo de contratação da Exec.
Segundo Belini, foi o ex-secretário que submeteu o nome de Reynaldo Passanezi Filho para o Conselho de Administração aprovar como novo presidente da Cemig. Como mostrou O TEMPO, os deputados da CPI apontam um conflito de interesses na indicação porque um ex-diretor da Cemig relatou pressão de Passanezi para mudar o resultado de uma licitação e favorecer uma empresa de Azevedo.
Reynaldo Passanezi Filho tomou posse como presidente da Cemig em 13 de janeiro de 2020, após ter sido selecionado pela Exec. Porém, o Conselho de Administração só autorizou a contratação da empresa de recrutamento uma semana depois, no dia 20.
Isso significa que a Exec prestou o serviço sem ter contrato assinado. A Cemig argumenta que isso foi necessário diante da urgência de selecionar um novo presidente, o que teria que ocorrer em sigilo já que a estatal tem ações na bolsa de valores, que poderiam sofrer variações.
Para isso, foi utilizado um processo chamado de convalidação — na prática, o Conselho de Administração reconheceu que o serviço foi prestado e autorizou a assinatura do contrato e o pagamento a posteriori.
Segundo Belini, ele informou ao governo Zema que queria deixar a presidência da Cemig entre outubro e novembro de 2019, mas a saída dele se concretizou somente em janeiro. O ex-presidente afirmou que pediu para deixar o cargo devido a um problema de saúde no coração.
Procurada, a Cemig disse por meio de nota que a contratação da Exec "foi feita com a observância das normas legais e internas da empresa"
A Exec declarou que "não irá mencionar contratos de seus clientes, pois os mesmos são sigilosos".
Procurado, Evandro Veiga Negrão de Lima Jr. negou qualquer irregularidade. "O diretório do partido Novo e seus membros declaram que não foi feita nenhuma irregularidade e estão à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos quando e se necessário", disse.
‘Comando paralelo’
O relator da CPI da Cemig, Sávio Souza Cruz (MDB), classificou a participação de Evandro Negrão de Lima Jr. na contratação da Exec e na seleção do presidente da Cemig como um “comando paralelo” na empresa, já que o vice-presidente do Novo não tem cargo no governo nem na Cemig. De acordo com um depoimento do sócio da própria Exec, Evandro entrevistou candidatos finalistas.
“Fica claro que havia dentro da Cemig um comando paralelo, que havia existência de insiders. E isso é grave em empresas que têm ações em bolsa. Insiders que tinham informações privilegiadas tomando decisões em nome da empresa”, afirmou.
O vice-presidente da CPI, Professor Cleiton (PSB), da oposição, adotou a mesma linha.“Fica clara a ingerência do Partido Novo na Cemig. Quem mandava de fato na estatal era Cássio Azevedo, ex-secretário de Zema. Fica claro que Belini sai da estatal por questões de saúde e por insatisfação do processo de troca do seu nome", disse.
Belini, por sua vez, negou que tenha havido qualquer tipo de comando paralelo em sua gestão e disse que nunca recebeu pedidos de contratação de empresas ou servidores por parte de Evandro Negrão — com quem disse ter se reunido somente uma vez em um ano para tomar um café — ou de representantes do governo Zema.
O deputado Zé Guilherme (PP), que integra a base do governo, disse que vê com tranquilidade a fatura enviada por Evandro a Belini.
“Uma empresa igual a Cemig não vem e vai anunciar que está sem presidente. O Evandro, pelo o que eu sei, não tenho certeza, mandou uma indicação para que a Exec fizesse o serviço de headhunter. Mas o Cledorvino estava saindo. Ele disse: ‘fica aqui com o superintendente’. Vejo com muita tranquilidade porque o pagamento, depois, foi autorizado pelo Conselho da Cemig”, disse.
Ele também rebateu a existência de ingerência na Cemig. “Foi perguntado diversas vezes para o Cledorvino se algum dia houve alguma ingerência ou pedido do governo. Ele negou veementemente e disse que desde o dia que assumiu a presidência ele teve total liberdade para conduzir a empresa”, afirmou Zé Guilherme.