Disputa

Eleição na pandemia terá menos recursos e deve sepultar comitê

Líderes partidários avaliam que campanha na internet deve prevalecer sobre atividades na rua; número de cabos eleitorais deve ser reduzido

Por Sávio Gabriel
Publicado em 13 de julho de 2020 | 03:00
 
 
 
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Muito além de mudar a data oficial das eleições brasileiras, que ocorrerão em novembro, a pandemia do coronavírus que afeta o mundo vai impactar as estruturas de campanha dos candidatos e também os gastos. Devem sair de cena os tradicionais comitês físicos, as ações de panfletagem, além de haver uma diminuição considerável das agendas de rua. Nesse cenário, apontam os líderes partidários em Minas, a internet será a grande plataforma de divulgação, o que deve baratear os custos neste ano.

“Tudo indica que, em razão do coronavírus e dos poucos recursos para as campanhas, sobretudo nas cidades de médio e pequeno porte, elas deverão se dar muito mais de forma virtual”, pontuou o deputado federal Paulo Abi-Ackel, presidente do PSDB em Minas. A despeito da necessidade das regras de isolamento social, o tucano disse que não é possível estimar como estará a situação até o início da campanha, que começa no dia 26 de setembro, e não descartou algumas ações presenciais. “Tenho a impressão de que nós não teremos sequer comitês de campanhas bem organizados como eram antes. Vão prevalecer o WhatsApp, o telefonema e as visitas pessoais, na medida do possível”, prevê.

O entendimento é o mesmo no PT. “Se a gente tiver um cenário de instabilidade sanitária, eu não vislumbro (a instalação de comitês). Ainda mais que estamos falando de campanhas curtas, de 45 dias. Não imagino que o gasto com comitê será recorrente”, pontuou Cristiano Silveira, deputado estadual e presidente do partido em Minas.

A leitura entre os petistas é que, independentemente da pandemia, os candidatos já não faziam muito uso das agendas de rua como antigamente, buscando na internet uma forma mais eficiente para se tornarem conhecidos. 
“À medida que você aumenta a presença da campanha nas redes sociais, o volume de material gráfico começa a diminuir. Talvez tenha algo para veículos, mas aquilo de fazer jornal, santinho, colinha (usada pelos eleitores no dia da eleição) vai diminuir. E isso, naturalmente, diminui a necessidade de comitês”, pontuou Silveira, destacando que esse movimento vai baratear os custos neste ano.

No caso das localidades mais remotas, onde a presença de internet não é tão grande, o PT acredita que a realização de comitês móveis, que circulem pelos bairros, possa ser a alternativa adotada.

O MDB também estima que possa haver uma adaptação das estruturas de campanha para as cidades menores. “A característica dessas localidades naturalmente já é de distanciamento social. São regiões mais isoladas, com baixa densidade demográfica. Portanto, não há dificuldade em manter o distanciamento saudável ou de segurança”, avaliou o deputado federal Newton Cardoso Jr., que preside a sigla no Estado.

O dirigente destacou que, em 2020, os candidatos precisam dar às regras sanitárias o mesmo peso que a legislação eleitoral tem. “Acredito que a panfletagem de rua será de certa forma mais restrita, reforçando o uso de bandeiras ou da divulgação a distância”, disse, pontuando, no entanto, que a decisão sobre a estrutura de campanha ficará a cargo de cada candidato.

Planejamento de ações depende da evolução dos casos

Enquanto os dirigentes partidários aguardam os desdobramentos da pandemia de coronavírus, alguns pré-candidatos já começam a montar suas estratégias para driblar a diminuição das agendas de rua neste ano. O uso das redes sociais já é uma realidade para os postulantes, especialmente após as eleições de 2018, quando as plataformas se consolidaram no cenário político brasileiro.

“Estamos nos preparando para reuniões virtuais. Em relação à estrutura física, eu não tenho muita ideia, porque acho que vai depender muito de como vai evoluir a proliferação do vírus. Certamente não vão se repetir eventos como os que fazíamos no passado”, explicou a deputada estadual Marília Campos (PT), pré-candidata à Prefeitura de Contagem.

Pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o deputado estadual João Vitor Xavier (Cidadania) disse que ainda está cedo para pensar na questão, mas destacou que vai seguir todas as orientações sanitárias. “Acredito que vai ser uma eleição completamente diferente das outras. Ninguém vai ter aquele aparato de estrutura, de comitês para reuniões”, avaliou. 

“Com relação à adesivação dos carros, isso coloca alguém em risco? É uma coisa segura a se fazer? Se as respostas forem positivas, obviamente vamos nos cercar de toda a responsabilidade, adotando protocolo de higiene adequado e indicado por um especialista”, explicou.

Por meio de nota, a pré-candidata à PBH Luisa Barreto (PSDB) informou que vai se orientar pela legislação eleitoral e pelos protocolos sanitários. “As ações de campanha serão planejadas conforme a evolução da pandemia”.

Procurado, o prefeito da capital, Alexandre Kalil (PSD), informou, por meio de sua assessoria, que não comentaria o assunto. “Não dá para falar de política agora. Nosso foco está no combate à pandemia”, pontuou o gestor.

Emenda permite alterações

A emenda constitucional que alterou o calendário eleitoral traz uma brecha para que haja mudanças nas estruturas de campanha. 

“Os atos de propaganda eleitoral não poderão ser limitados pela legislação municipal ou pela Justiça Eleitoral, salvo se a decisão estiver fundamentada em prévio parecer técnico emitido por autoridade sanitária estadual ou nacional”, diz a lei.

No entanto, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral de Minas (TRE-MG), ainda não há nenhuma sinalização por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre possíveis modificações na estrutura das campanhas. “Além disso, ainda não houve uma discussão sobre a elaboração de orientações para os partidos, o que, se for acontecer, será próximo do período da propaganda eleitoral”, informou o TRE-MG em nota.

O PT e o PSDB em Minas informaram que não devem fazer nenhuma deliberação específica sobre a questão das estruturas. Já o MDB está construindo resoluções em âmbito nacional que devem ser seguidas pelas demais instâncias partidárias.

 

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