Dois geólogos consultados pelo jornal O TEMPO explicaram que os desmoronamentos de rochas, em pequenos ou grandes blocos, são comuns nos cânions. No entanto, o acidente em Capitólio neste sábado (8) foi potencializado pela chuva e as autoridades deveriam ter delimitado uma faixa de risco no local.
Pelo menos três embarcações foram atingidas pela manhã quando uma rocha se soltou de um cânion no Lago de Furnas, em Capitólio. Até o momento, o Corpo de Bombeiros confirmou a morte de cinco pessoas, deixando 20 desaparecidos e 32 feridos. A Marinha do Brasil vai abrir um inquérito para investigar as circunstâncias do acidente.
De acordo com o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a “rocha tem acamamentos e fraturamentos naturais que facilitam esses desmoronamentos”. E com a formação do lago de Furnas, "a parte baixa dos paredões rochosos que fica em contato com a água passou a sofrer os efeitos da saturação pela água e do constante embate de ondas, fatores que potencializam a possibilidade de desmoronamentos”, explicou.
O geólogo Everton de Oliveira, conhecido como “professor água” do Instituto Água Sustentável, ponderou que a água é “a responsável pelo fenômeno de erosão que fez com que ocorresse a queda da parede rocha, mas não é a responsável pela tragédia”.
Segundo o especialista, com o aumento de chuvas o fenômeno do deslizamento é compreensível e os trabalhadores do local “deveriam ter essa informação para evitar que as pessoas cheguem nas proximidades”. O principal, disse o professor, é evitar a presença de turistas em dias de chuva. Além disso, ele defende a necessidade de fazer um levantamento das áreas de risco e mapear onde as fraturas estão mais expostas, onde tem mais infiltração de água e onde os blocos estão mais instáveis, por exemplo.
Rodrigues dos Santos disse ainda que uma faixa de risco deveria ter sido pensada pela gestão das atividades de turismo da região, sendo definida “a partir do pé do paredão em contato com a água”.
Para o geólogo, “barcos e eventuais nadadores não deveriam ultrapassar”, bem como não poderiam navegar “nos canais estreitos dos cânions, dado o fato de que nesses canais as embarcações ficam muito próximas dos paredões”. O episódio, segundo ele, é uma “dura e trágica lição” que obriga a tomada de providências.