Preso há quase um ano

Ex-governador de Minas, Eduardo Azeredo se desfilia do PSDB

O agora ex-tucano diz que a decisão foi motivada em virtude de fatos recentes que levaram a injusta punição por acusações que não cometi e pelo fato de estar afastado da vida político-partidária

Por Sávio Gabriel
Publicado em 20 de maio de 2019 | 17:23
 
 
 
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Ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo se desfiliou do PSDB no início do mês. Em uma carta datada do dia 07 de maio, o agora ex-tucano afirma que tomou a decisão "considerando os fatos recentes que me levam a uma injusta punição por acusões de atitudes", além de seu afastamento da vida político-partidária.

Azeredo está preso há quase um ano, cumprindo uma pena de 20 anos e um mês por peculato e lavagem de dinheiro. No dia 23 de maio de 2018, o ex-governador foi detido por crimes cometidos no caso que ficou conhecido mensalão do PSDB, ocorridos no fim da década de 1990. De acordo com as investigações, estatais mineiras foram usadas para desviar dinheiro para a campanha de reeleição do tucano, em 1998.

Na carta, endereçada ao deputado federal Paulo Abi-Ackel, presidente estadual do PSDB mineiro, Azeredo diz que ajudou a fundar o partido, no fim da década de 1980, e que, ao se filiar, inspirou-se "na vocação pública herdada do meu saudoso pai, Renato Azeredo, e nos ideais da social-democracia, liderada naquela época por Franco Montoro, Mário Covas, José Richa..."

Ele ainda ressalta que cumpriu "a ideologia social-democrata", e citou ações implementadas durante sua gestão (1995-1999). Ex-senador por Minas (2003-2011) e ex-presidente nacional do PSDB (2004-2005), Azeredo também lamentou o fato de a legenda ser a nona maior bancada na Câmara. "O que debito, em parte, à dubiedade, ao populismo e à covardia e hipocrisia de
alguns no enfrentamento das questões eleitorais", disse.

Confira, abaixo, a carta na íntegra:
 

"Belo Horizonte, 07 de maio de 2019.

Prezado Presidente Paulo Abi-Ackel,
Considerando os fatos recentes que me levam a uma injusta punição por acusações de atitudes que não cometi, e o meu afastamento da vida político-partidária, venho solicitar a minha desfiliação do Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB.

Ajudei a fundar o partido em 1988, e ao me filiar inspirei-me na vocação pública herdada de meu saudoso pai, Renato Azeredo, e nos ideais da social-democracia, liderada naquela época por Franco Montoro, Mário Covas, José Richa, já falecidos, e Fernando Henrique Cardoso, José Serra, entre outras lideranças inconformadas com os rumos éticos do país.

Como vice-prefeito eleito na chapa de Pimenta da Veiga, outro líder que me influenciou e que me deu a oportunidade de ser Prefeito da cidade onde nasci, pudemos modificar Belo Horizonte com projetos sociais e ações transformadoras, terminando com a aprovação de 82%.


Fui o primeiro governador de Minas Geais do PSDB, eleito que fui em memorável eleição e também o primeiro senador do partido no estado.

Cumpri a ideologia social-democrata como atestam os índices de investimento em educação naquele período (45% da receita), a implantação dos programas Saúde da Família e Consórcios Intermunicipais de Saúde, a revolucionária Lei Robin Hood, que redistribui recursos de acordo com políticas públicas, o PMC – Programa de Mobilização de Comunidades, a reforma agrária sem invasões ou violência, as Casas Lares, a criação da Secretaria de Meio Ambiente e a implantação de incentivos estaduais à cultura, o fim de tratamentos desumanos como no “Inferno da Lagoinha”, na “FEBEM” e nos hospitais psiquiátricos, as obras de
infraestrutura e a grande atração de investimentos e fábricas, entre tantos outros projetos. No meu período de governador, o partido alcançou as maiores bancadas de Deputados Federais e Estaduais de sua história, assim como elegeu o maior número de Prefeitos.

Como Senador, representei Minas Gerais na propositura de projetos como a obrigatoriedade dos airbags nos veículos fabricados no Brasil, relatei dezenas de projetos, como a lei contra crimes digitais, participei ativamente das comissões temáticas chegando a Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, liderado na oposição pelo valente líder Arthur Virgílio, e ao lado de outros líderes valorosos, como Tasso Jereissaiti.

Tive também o privilégio de ser Presidente Nacional do PSDB em 2004/2005 com o afastamento do amigo José Serra para disputar e assumir a Prefeitura de São Paulo.

Na Câmara dos Deputados participei de momentos e decisões importantes na bancada da oposição e pude representar o partido na Presidência da Comissão de Ciência e Tecnologia. Também nesta Casa tive a oportunidade de defender a social-democracia, na qual continuo a acreditar como melhor alternativa para nosso gigantesco país.

Lamento profundamente que o partido tenha hoje apenas a nona bancada da Câmara dos Deputados, o que debito, em parte, à dubiedade, ao populismo e à covardia e hipocrisia de alguns no enfrentamento das questões eleitorais.

Agradeço a todos os filiados, militantes, colegas e amigos que me acompanharam nestes trinta anos de convivência partidária".

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