Vivemos tempos em que a estupidez tem sido cultivada como princípio para alcançar visibilidade na política. Na ausência de um projeto político, pautas puramente ideológicas e falas mesquinhas, violentas e preconceituosas ganham espaço nos palácios, prefeituras, assembleias e câmaras de todo o país. Isso acontece porque o objetivo não é construir um projeto de nação, mas desgovernar: destruir políticas conquistadas ao longo de décadas, garantindo visibilidade para manter privilégios e avançar na retirada de direitos.
As atrocidades ditas pelo presidente e seus ministros cumprem esse papel. O ministro do Meio Ambiente, por exemplo, odeia o meio ambiente. Isso ficou escancarado durante a reunião ministerial do dia 22 de abril, na qual Ricardo Salles disse que o governo deveria aproveitar que os holofotes estavam focados na pandemia do novo coronavírus para mudar as regras de proteção ambiental do país.
Esse tipo de comportamento se repete quando vemos os ministros da Cultura atuando para censurar a cultura, o ministro da Educação trabalhando para deslegitimar os processos educacionais, o presidente da Fundação Palmares se posicionando contra negros e negras. No caso da saúde, nem ministro nós temos. Essa não é um postura de quem tem um projeto de país, é uma postura de alguém que pretende se afirmar antissistema explorando a estupidez como valor político.
A doutora em comunicação Rosane Borges recupera o filósofo Theodor Adorno para conceituar a estupidez do bolsonarismo enquanto princípio do pequeno grande homem, que é considerado pouco inteligente e diz o que pensa sem se importar com o politicamente correto. É tão violento e mesquinho com os que considera vulneráveis, tão deslocado, que acaba por afirmar-se mito.
O cenário se repete na Câmara Municipal de Belo Horizonte, formada por uma série de pequenos grandes homens, seguidores do bolsonarismo, que aprenderam o valor político da estupidez. A partir de falas atrapalhadas e projetos perversos, esses parlamentares ganham visibilidade e lealdade de parte da sociedade que perdeu a esperança na política e na possibilidade de construção de um país melhor, ou daqueles que simplesmente desejam seguir desfrutando seus privilégios.
Não é à toa que grande parte dos parlamentares que cultivam a estupidez como princípio têm pouco a propor para a cidade. Durante a pandemia do coronavírus, não apresentaram propostas e não mostraram iniciativa para votar com urgência os projetos de lei que poderiam oferecer alento para as pessoas.
Para conseguirem visibilidade, esses parlamentares recorrem às falsas polarizações, como aconteceu no ano passado com a tentativa de aprovação do Escola sem Partido, projeto que busca criminalizar professoras e interferir nas escolas e na dinâmica da comunidade escolar. A situação se repete com a moção de aplauso ao governo Bolsonaro que quase foi aprovada na Câmara Municipal nesta semana. Queriam aplaudir um presidente que incita a população a burlar as normas de proteção enquanto choramos a morte de 67 mil pessoas.
A mesma lógica foi usada durante a votação do projeto de lei que instituia o Dia Municipal de Combate ao Feminicídio. Apesar de não terem interesse em se afirmar enquanto homens machistas, esses parlamentares antagonizam com o projeto a partir de uma estratégia estúpida que tem como objetivo chamar atenção. Depois plagiam o projeto de forma praticamente idêntica, para afirmarem a fragilidade da sua masculinidade de pequeno grande homem. Como diria o filósofo Alain Deneault no seu livro “A Mediocracia”: “o que realmente importa não é evitar a estupidez, mas adorná-la com a aparência de poder”.