Levantes populares antirracistas e antifascistas têm ganhado força ao redor do mundo. As movimentações, que tiveram como estopim o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, pressionam pelo fim do racismo estrutural e da violência policial contra a população negra.
A realização dessas manifestações em meio à pandemia do coronavírus tem sido motivo de debates, já que a aglomeração de pessoas é uma das principais causas da disseminação da doença. Em países como o Brasil, contudo, as condições de isolamento não foram garantidas para a maioria da população pobre e negra, que segue nas ruas, nos ônibus, nas lojas e nas fábricas. Independentemente dos diferentes pontos de vista, os protestos marcam a resistência de grupos contrários à ascensão da ultradireita conservadora em todo o mundo.
Covid-19
As manifestações no Brasil são, sobretudo, antirracistas. Elas denunciam a desigualdade estrutural entre os cidadãos, que se manifesta, por exemplo, na proporção de mortes da população negra por coronavírus no país. Segundo nota técnica de pesquisadores do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a taxa de letalidade entre os pacientes negros internados por Covid-19 é de 55%. Entres os pacientes brancos, ela cai para 38%.
Superar esse quadro de desigualdade não parece ser a intenção do governo Bolsonaro. Sua ação é, antes de tudo, a da promoção da morte. A progressiva militarização da sociedade multiplica casos como o de João Vitor, 18, assassinado com um tiro de fuzil nas costas. A ação policial ocorreu enquanto um grupo distribuía cestas básicas na comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.
Outra forma de promover a morte é não fazer nada para impedir que ela aconteça. Chegamos a mais de 38 mil óbitos por coronavírus, e o governo insiste em não apoiar o isolamento social, não seguir as recomendações científicas, censurar os dados sobre óbitos, não oferecer Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) às equipes de saúde e assistência e limitar os testes para a população. Também não há um plano econômico de proteção das pequenas e médias empresas e dos trabalhadores informais e autônomos.
Políticas públicas
Com o suporte de políticas públicas, seria possível evitar mortes como a de Miguel Otávio, 5, que caiu do nono andar do prédio em que sua mãe trabalhava como empregada doméstica para Sarí Corte Real, indiciada por homicídio culposo, em Recife.
Devido a essas posturas, vários grupos atribuem ao governo Bolsonaro um caráter fascista. Mas o que isso significa? O fascismo é conservador e autoritário, constrói uma ideia de nação e povo que exclui grande parte das pessoas que, na verdade, pertencem a essa nação, como os indígenas, as mulheres, os LGBTs e as pessoas negras e pobres. Várias alusões simbólicas ao fascismo apareceram em manifestações públicas do presidente, de seus ministros e de apoiadores.
Democracia
Esse cenário fez com que as manifestações antirracistas também levantassem a bandeira do antifascismo e gritassem “Fora Bolsonaro”. Em um momento em que o governo ameaça o STF e afirma a possibilidade de um autogolpe, é preciso aglutinar as forças democráticas do país. Alguns ainda acreditam que ir para as ruas pode fortalecer as pretensões autoritárias do governo.
É importante lembrar: os golpistas não precisam de justificativa para avançar sobre os direitos da população, e a reivindicação das ruas enquanto espaço da cidadania é um aspecto crucial da defesa da democracia.