BRASÍLIA - Uma das principais lideranças indígenas do planeta, Cacique Raoni fez cobranças ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma visita do petista à região do Xingu, no Mato Grosso. Na cerimônia, Raoni foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito pelo Presidente da República.
Durante o evento, ele criticou o avanço das discussões sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial da Foz do Amazonas, à qual Lula não se opõe em falas públicas.
“Essas coisas [floresta] na forma como estão garantem que a gente tenha o meio ambiente, a terra com menos poluição e menos aquecimento. Se isso [exploração] acontecer, sou pajé e já tive contato com espíritos que sabem do risco que corremos de continuar trabalhando dessa forma de destruir, destruir e destruir. Podemos ter consequências muito grandes e podemos não conseguir parar”, disse Raoni.
Apesar de ter feito elogios a Lula e desejado que o país continue sendo governado por alguém como ele, Raoni afirmou que erros foram cometidos no passado e indicou ser contrário a ações da atual gestão.
“Fiz uma cobrança ao presidente para ele não repetir alguns erros que ele fez na gestão anterior. E eu não gostei de alguns trabalhos dele, mas falei ‘presidente, daqui pra frente vamos trabalhar certo’. E uma das coisas que pedi: estou cobrando para que ele faça uma nova limpeza no limite de nossa terra para garantir nosso limite físico e proteger nossa terra”, afirmou.
Em seguida, Lula leu um discurso escrito, com uma série de elogios ao Cacique Raoni e exaltando ações do governo para os povos indígenas, como a demarcação de novas terras. O presidente ainda fez menção à meta de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030.
“Sem a proteção dos povos indígenas e o cuidado com a floresta e os rios, a crise climática traria eventos ainda mais extremos para toda a população brasileira, sem exceção. Vocês são essenciais para atingir a meta de desmatamento zero da Amazônia até 2030”.
Segundo o presidente, “ainda há muito a ser feito” e os desafios “precisam ser tratados de forma negociada, com diálogos e transparência”.
“Sabemos que muitas vezes o tempo das coisas é mais lento que a vontade de vocês e a nossa. Mas olhamos para o mesmo rumo, temos o mesmo propósito e a certeza que o Brasil que queremos e que estamos construindo respeita e valoriza os povos originários”.
Por fim, o presidente disse que os indígenas “têm direito de reivindicar e conquistar quantas terras forem necessárias”, apontando que embora as reservas ainda sejam equivalentes a 14% do território nacional, um dia já foram 100%.
Cacique Raoni foi uma das pessoas que subiram a rampa do Palácio do Planalto na posse de Lula, em 1º de janeiro de 2023. Em outras ocasiões, porém, também fez críticas ao governo, afirmando que as promessas ainda não tinham sido cumpridas.