Governo em crise

Apesar das manobras pela popularidade, Bolsonaro acumula derrotas na semana

Desmonte na equipe de Guedes, lentidão para votar a reforma do Imposto de Renda no Senado e relatório da CPI da Covid-19 são alguns dos fiascos colecionados por Bolsonaro nesta semana

Por Luana Melody Brasil
Publicado em 24 de outubro de 2021 | 15:00
 
 
 
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Buscando recuperar a popularidade em meio às crises política e econômica, o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) colecionou fiascos ao longo da semana que se encerrou neste sábado (23).

Candidato à reeleição em 2022, Bolsonaro tenta chegar forte para a disputa à presidência. Por isso, está preocupado com a grande parcela da população que voltou para a miséria e articula uma renda básica de, no mínimo, R$ 400 mensais para aproximadamente 17 milhões de famílias.

Além disso, diante da alta dos combustíveis e prevendo novo reajuste no preço desse insumo, o presidente anunciou também um auxílio de R$ 400 para 750 mil caminhoneiros autônomos.

Os programas sociais ameaçam o compromisso fiscal com o teto de gastos firmado pela gestão do ministro da Economia, Paulo Guedes, e foram a gota d'água para um grupo de secretários da cúpula do ministério, que eram contrários aos valores propostos pela ala política do governo federal e, por isso, pediram demissão coletiva na quinta-feira (21). 

O desmonte na equipe econômica e o previsto furo no teto de gastos em, pelo menos, R$ 30 bilhões, fez com que Bolsonaro e Guedes precisassem dar explicações no dia seguinte para acalmar os ânimos do mercado financeiro, o qual o presidente chamou na live semanal de "nervosinho".

Em reação aos temores de piora do cenário fiscal brasileiro, o dólar disparou e chegou a R$ 5,75 na tarde da sexta-feira, enquanto a bolsa de valores despencou. Na quinta-feira, a bolsa chegou a cair 4,57%, fechando em queda de 2,75%, a 107.735 pontos – a pior pontuação do ano.

Lentidão para aprovar principal fonte de recursos

Uma das queixas feitas por Guedes durante seu pronunciamento à imprensa no auditório do Ministério da Economia é referente à falta de motivação do Senado para agilizar a reforma do Imposto de Renda (IR). Ao aumentar a arrecadação, é considerada pelo ministro "a fonte correta" de custeio dos programas sociais desejados por Bolsonaro.

A reforma foi aprovada na Câmara dos Deputados no início de setembro e desde então está empacada no Senado. Segundo a previsão do relator, senador Angelo Coronel (PSD-BA), essa reforma tende a ser apreciada pela Casa somente no ano que vem, que sendo ano de eleições, jogará ainda mais para a frente a votação.

Com isso, a principal aposta do governo se voltou para a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição dos Precatórios, que foi ajustada pelo relator, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), para liberar aproximadamente R$ 83 bilhões no Orçamento de 2022. O novo texto do relator foi aprovado pela maioria dos deputados na comissão especial que analisou a PEC. A proposta ainda vai passar pelo plenário da Câmara e, se aprovada, segue para o Senado.

Guedes chegou a fazer um apelo ao Congresso pela aprovação da PEC, pois sem ela as chances de financiar o Auxílio Brasil de R$ 400, em substituição ao atual Bolsa Família, diminuem consideravelmente.

Relatório da CPI da Covid-19

Além da reforma do IR, outro revés sofrido por Bolsonaro no Senado, nesta semana, foi o relatório final apresentado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), que é relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. 

Calheiros imputou ao presidente 9 crimes entre artigos do Código Penal, do Tratado de Roma e da Lei de Responsabilidade. Além de Bolsonaro, três filhos dele, o senador Flávio Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, também foram incluídos na lista de indiciados por crimes. 

Em reação, o presidente disse que o "governo tá de consciência tranquila do que nós fizemos". Sobre os crimes imputados a ele e sua família, respondeu na live semanal que não vai discutir "uma historinha de fantasia desses caras", em referência aos senadores Omar Aziz, Randolfe Rodrigues e Renan Calheiros.

Depois, comparou a CPI da Covid-19 à Comissão Nacional da Verdade que, em 2011, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), investigou os crimes cometidos durante a ditadura militar. A CNV não tinha poder judicial e, portanto, não julgou nem condenou os crimes, tendo um papel apenas esclarecedor. 

Prisão de aliado do governo

Em outra frente, o presidente teve de encarar o pedido de prisão de um dos seus militantes mais aguerridos, o influenciador digital Allan dos Santos, do site Terça Livre. 

Na quinta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes acionou o Ministério da Justiça para que seja pedida a extradição de Santos, que está nos Estados Unidos desde que começou a ser investigado nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos. Moraes também pediu a inclusão do nome do bolsonarista na "difusão vermelha" da Interpol, a lista internacional de procurados.

Além disso, Moraes mandou bloquear as contas e autorizou a quebra de sigilo de algumas informações do influenciador. Em sua decisão, o ministro considerou a investigação da Polícia Federal sobre os indícios da prática do crime de lavagem de dinheiro.

Como resultado, o site Terça Livre encerrou suas atividades no sábado (23), depois que o YouTube foi obrigado a retirar do ar os vídeos do canal. Outro canal criado por Santos, o Artigo 220, também foi suspenso pela plataforma na última semana.

O aperto no cerco judicial pegou os aliados de Bolsonaro de surpresa, quando eles acreditavam que Moraes tinha arrefecido após o episódio da "carta à nação", do dia 9 de setembro. A carta, divulgada por Bolsonaro com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, teve o objetivo de pacificar o conflito entre o presidente e o ministro do STF.

A pacificação veio dois dias depois que o presidente chamou Moraes de "canalha", prometeu determinar a liberdade de todos os “presos políticos” e disse aos militantes que “qualquer decisão do Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá”, anunciando uma ruptura institucional que não cumpriu depois do 7 de Setembro.

Decepcionados, centenas de bolsonaristas, que haviam chegado barulhentos no dia 6 daquele mês para acampar em protesto na Esplanada dos Ministérios, saíram de Brasília no final daquela semana em caminhões silenciosos.

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