O canal criado pelo Ministério da Justiça apenas para receber denúncias relacionadas aos atos de 8 de janeiro registrou mais de 107 mil mensagens até a última sexta-feira (3). Desses, técnicos da Secretaria de Acesso à Justiça analisaram 102.407 e-mails e constataram que foram encaminhados por 27.457 denunciantes, com 121.588 arquivos anexados e mais de 62 mil links. São mais de 100 gigas de dados. 

Criado em 9 de janeiro passado, um dia após os ataques aos prédios do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF), o denuncia@mj.gov.br recebeu em sua maioria denúncias envolvendo políticos, militares das Forças Armadas e supostos financiadores das manifestações que resultaram na invasão e na depredação.

A maior parte das denúncias (7.003) foi feita contra autoridades, incluindo governadores, prefeitos, deputados e vereadores. O Ministério da Justiça não informou o conteúdo dos e-mails, mas revelou que entre os políticos citados estão dois dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro. O  deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi citado em 105 mensagens, enquanto o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) aparece em 50 e-mails. 

Já militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, de diferentes patentes, são apontados em 5.582 mensagens. Do restante, 3.707 denúncias foram feitas contra possíveis organizadores de caravanas e 2.696 e-mails envolvem supostos financiadores dos atos de vandalismo. As informações foram encaminhadas à Polícia Federal que vai usar os dados ao longo das investigações. 

“Alguns dados chamaram a atenção, como a frequência com que alguns nomes apareceram, como a Ana Priscila, que era uma das lideranças dos atos terroristas e que, inclusive, foi presa pela PF. A gente viu aqui pelo menos em 450 e-mails o nome dela como alguém que estava mobilizando e chamando as pessoas para os atos terroristas”, contou Marivaldo Pereira, titular da Secretaria de Acesso à Justiça.

Outro nome frequente nas denúncias foi o de Ramiro dos Caminhoneiros, uma das lideranças que também foi presa. 

“Ele apareceu em pelo menos 25 e-mails que apresentaram imagens, vídeos e links com mobilizações que essa liderança fez em relação aos atos terroristas. Outra que apareceu com muita frequência foi Fátima Tubarão, também presa pela Polícia Federal. Ela aparece citada por 56 denunciantes em 86 e-mails, com anexos e links, mostrando o papel dela na mobilização”, disse o titular da Saju. 

Mais de 550 denúncias sobre uso de Pix para financiar atos

Um ponto importante percebido nos e-mails foram os Pix, ferramenta muito usada para levantar recursos no financiamento dos atos, segundo as denúncias. Foram, ao menos, 559 e-mails denunciando o uso de Pix. E mais de 300 denunciantes mandaram mensagens relatando que os Pix, de alguma forma, estavam envolvidos com a mobilização. 

“O mapeamento é interessante porque, por meio do Pix, é possível chegar a uma pessoa que provavelmente estava na organização dos atos”, acredita o secretário.

Outro aspecto interessante do estudo é relacionado às denúncias ligadas aos veículos que transportaram os participantes dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. São mais de 3.700 e-mails mencionando ônibus ou caravanas. Há, ainda, menções a financiadores. Foram mais de 2.600 e-mails apontando possíveis financiadores, encaminhados por mais de 1.500 denunciantes.

A próxima fase do trabalho será a de identificar buscas mais relevantes; abrir anexos para identificar provas; organizar perfis denunciados para bloqueios; identificar CPFs, telefones, Pix e endereços; e transcrever conteúdos de áudio e vídeo.

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